Tuesday, September 12, 2006

25-agos-06

Preguiça em escrever, farto de ler, penetro cada vez mais fundo nesta minha clausura. Procuro algo que, nesta minha profunda solidão, não encontro e que fugazmente vislumbro em pequenos momentos ao telefone.
O som do mar ecoa-me no espírito e a brisa da praia investe como um fulgor que tenho em me livrar destas paredes. Em clausura, como ma soror leio livros medievais, livros com histórias de padres, amores e irmãs. Invisto na modernidade vasculhando no movimento dos meus dedos a forma de conquistar o mundo em frente a um ecrã. A sobejar a isto tudo, como uma violenta onda procuro encontrar a BELEZA. Procuro um cânone, uma diva, um modelo grego. Procuro palpar o que de bonito possa haver na tragicidade de uma vida amaldiçoada pelo destino. Pateticamente invento um ensaio sobre essa mesma beleza e nada mais acontece, tudo gira em turbilhão sem que saia do mesmo sítio.
Uma escultura, por muito bonito que seja um bloco de pedra, tem sempre algo mais. Não digo que seja a cabeça do autor, porque isso é impossível de recriar, transmitir, de reproduzir… a maior frustração de um autor é isso, é o escrever, é o esculpir, é o desenhar, o pintar, o filmar ou criar seja o que quer que seja sem que consiga transmitir nitidamente “o que deveras sente”.
De forma alguma procuro ver como o autor via a sua obra, ler um romance como o leria o seu romancista, não me interessa em distrinçar um canto da Ilíada. Procuro apreciar o que nisso é belo, tirar do que aprecio um fugaz momento em que detenho os meus sentidos. Ver que isto é bonito e senti-lo no meu corpo, transpirá-lo por todos os poros. Uma experiência de uma impressão pessoal. Impressão quer ela seja trágica ou estética, cómica ou puramente conceptual. A beleza tem de atingir-me.

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