Monday, June 12, 2006

ela ali está. sentada no canto do bar. desde que abrira que a rapariga entrou e sentou-se nessa mesa. o seu porte enche completamente aquela zona do bar e ninguém ousa aproximar-se dela. o seu olhar parece que fere, como se garras acutilantes se cravassem no nosso peito.
volto na noite seguinte ao mesmo bar e encontro a mesma rapariga sentada no mesmo lugar com o mesmo porte. sempe ela... em cima da mesa tem a sua garrafa de bebida, sempre a mesma, que vai despejando ao longo da noite. parece que não tem nada para fazer que não seja vir para ali sentar-se e mandar um olhar meio discreto para o bar. como sempre, ela veste preto. não preto de cerimónia mas preto fúnebre. entre os meus amigos ela é conhecida simplesmente como "a viúva", mas ficamo-nos por aí. tentamos inventar histórias acerca dela mas todas nos parecem muito improváveis de acontecer. dizemos na brincadeira que vem para ali tentar encontrar alguém que vá com ela para a cama, dizemos que a sua casa é um bordel, que tem as cortinas vermelhas e a colcha da cama preta. que por debaixo do fato que tem se encontram umas ligas que mostra no mais escondido dos seus recantos. nada sabemos acerca dela.
observo-a. como sempre está sozinha e não procura ninguém no bar. o vestido que tráz faz-se acompanhar de um pequeno chapéu com uma renda ambos da cor preta. o vestido, apesar de muito simples deixa antever que de corpo até será uma mulher interessante mas estes pensamentos não me incomodam demais, procuro descobrir quem é a viúva. já perguntei ao barman se sabia quem era a dita pessoa e porque vinha sempre ali e não fazia nada mais que beber uma garrafa. ele respondera-me que não sabia.
observo a forma como ela pega suavemente no copo e o leva delicadamente aos lábios sem que qualquer expressão a perturbe. aliás a sua pose pouco se faz acompanhar de tristeza ou alegria. o seu rosto é tão inexpressivo que me perturba profundamente.
decido-me a ir ter com ela. assim que repara em mim pousa o seu copo e diz-me um simples "boa noite". eu retribuo a saudação perguntando-lhe de seguida se se importava que me sentasse com ela. ela diz-me que para ela era igual. durante a noite conversamos sobre coisas banais e pergunto-lhe no meio de tudo isso quem era ela e porque vinha àquele bar sempre sozinha. ela diz-me que era para lembrar o seu marido. para estar sempre com o seu amado, com os seus fantasmas. ela diz-me que gostava muito dele e pergunto-lhe se queria desabafar alguma coisa...
- eu recordo-me como se fosse hoje...

sempre que vínhamos a este bar era uma alegria enorme estarmos com os nossos amigos e com os amigos das outras pessoas. não era invulgar, não fosse o facto de que era também neste espaço que cada um de nós curtia com um estranho. nenhum de nós achava estranho; aliás haviam apostas à mesa a ver quem ía com quem. um dia parece que apareceu uma estranha doença a um dos nossos amigos; os médicos não sabiam o que era, julgavam que era s.i.d.a. mas a verdade é que era uma doença completamente nova. esse amigo nosso morreu e nenhum de nós quis ir ao funeral a não ser eu, sentiam-se estranhos com a história da doença. pouco tempo depois começaram todos os meus amigos a morrer. a última pessoa foi o meu marido. foi uma situação tão estranha que não consigo descrever; parecia que uma maldição se havia instalado no nosso grupo e as pessoas foram morrendo de forma estranha. por fim eu fiquei sozinha, chorei muito. chorei até que não tivesse mais lágrimas para chorar e depois sequei. não derramei uma lágrima no funeral do meu marido, nessa altura já estava completamente sozinha e de nada ele morto me serviria. várias pessoas que conheciam o meu marido olharam-me com reprovação por eu nada chorar durante o velério ou mesmo no funeral, queriam ver-me a chorar e nunca lhes dei esse prazer. por fim começaram a surgir rumores de que eu o tinha morto para ficar com os bens; as coisas do costume e eu chorei fechei-me. quando voltei a este bar as coisas tinham mudado completamente, os empregados não eram os mesmos, as pessoas que frequentavam o sítio não eram as mesmas. chorei muito por dentro. mas assim que me sentei aqui parece que comecei a sentir os meus fantasmas amigos a virem ter comigo e a termos as nossas noites de loucura sem que saia desta cadeira. uma pessoa amiga deu-me uns comprimidos para que continuasse a vê-los cá e é isso o que faço aqui.

- nunca imaginei que as coisas fossem assim. eu e os meus amigos inventávamos na brincadeira algumas histórias mas ao olharmos para ti percebíamos que eram todas mentira.
- enquanto eles eram vivos eu e eles fizémos muitas maluqueiras que vocês nem sequer imaginam, mas as coisas mudaram e eu estou completamente sozinha. posso ter os meus fantasmas a virem visitar-me mas vou voltar sempre sozinho para casa.
- terás de ter força.
- eu sei. ainda me lembro...

a primeira vez que aqui viémos já trazíamos uma piela enorme. estávamos todos felizes e o bar tinha aberto há poucos meses. entrámos e ocupámos esta mesma mesa que haveríamos de ocupar nas vezes seguintes e que ainda hoje ocupo. nessa noite um dos meus amigos atira-me para cima de um dos clientes e eu deixo-me ir. o rapaz apanha-me e eu peço-lhe desculpas pelo incómodo. ele disse que não tinha importância. vou até à casa de banho e apercebo-me que não tiro os ohlos desse rapaz. ele resolve vir ter comigo e beijamo-nos à entrada das casas de banho. quando venho ter com os meus amigos o J. puxa-me à parte e disse-me que não gostara que eu tivesse curtido com ele; disse-lhe que nada de mais tinha feito mas ele diz que se sentira incomodado. perguntei-lhe porquê e ele disse-me apenas: "isto é o porquê" e mostrou-me uma caixa com um anel que fiquei a saber que naquela noite iria pedir-me em casamento. a caixa cai no chão e quando a apanho o J. dirige-se já para a saída. eu não o consigo deter e acaba por se ir embora. nessa noite fiquei ainda no bar pensando em tudo aquilo até que todo o grupo de fosse embora e me levassem a casa.
no dia seguinte eu vou falar com ele pedindo-lhe desculpas. ele faz o mesmo e choramos os dois juntos como se não houvesse mais amanhã.
ele pede-me em casamento e fazemos um acordo: as noites de saída com o grupo do costume são sempre para a loucura; nunca deixaremos que a fantasia de uma amante invada a nossa relação.
as coisas correram sempre bem e cada um de nós teve as suas oportunidades que as aproveitou da forma mais correcta possível.

- a vossa relação era um pouco estranha...
- a relação com os nossos amigos mais próxima era muito estranha. se pudéssemos nós os cinco casávamo-nos todos uns com os outros e éramos uma grande família. ainda me lembro...

um dia fizémos uma festa em casa do L. em que estávamos os cinco. depois de um jantar feito por mim sentamo-nos a conversar e a certo momento sinto-me completamente apaixonada pelos olhos da S. e digo-lho. ela não se incomoda nada com isso e dá-me um valente beijo. o L. ainda reclamou que aquela casa era uma casa de respeito mas ela levanta-se e beija-o também. eu levanto-me do sofá e ponho-me em cima do J. e do R. eles os dois acabam por se beijar e ficamos a sentir que aquele grupo é um grupo muito estranho, que não devem existir pessoas com um tal à-vontade como o nosso. beijo o J. longamente e acabo por lhe tirar a ti-shirt. a S. aproxima-se e também o acaricia. os dois rapazes que restam olham-nos, apreciando. a dado momento um deles, não recordo bem qual beija o outro e começam os dois a curtir. olhamo-los a sorrir e comentamos que para quem estava com ciúmes...
a S. propõe que todos tiremos as roupas e fiquemos ali a dar largas à nossa imaginação. na altura éramos bastante novos e podíamos fazer este tipo de coisas que não nos metiam confusão nenhuma. os pais do L. estavam fora e só daí a uma semana voltariam. o J. foi o primeiro a despir-se completamente e acabámos por nos excitar como seria de esperar. as voltas que demos... acho que nessa noite toda a gente teve sexo com toda a gente, mas isso era uma coisa nossa, um segredo que não revelaríamos a ninguém.

- agora que todos eles estão morto... para que me resta manter o segredo?
a verdade é que me senti incomodado com aquela história e não conseguia acreditar que fosse verdade, mas ela sossegou-me dizendo que compreendia a minha confusão. ao que parece eles também se sentiram um pouco confusos depois de aquilo tudo ter acontecido... houve algumas zangas e disputas mas todos se reconciliaram.
- percebo agora que quando vens aqui estás a fazer mais que só a beber, estás a viver tudo isso de novo na tua cabeça.
- sim...
- acho que gostaria de ter vivido nesse teu mundo, mas o meu é banal demais para que uma coisa assim tão invulgar aconteça. eu passo dias inteiros a trabalhar e a estudar, não tenho procurado muito estar com os meus amigos, eles é que me arrancam de casa antes que vire louco, mas a verdade é que a nossa amizade ao pé da vossa parece minúscula
- é engraçado que não reajas com nojo à história. ou estás a tentar engatar-me?
- não, a verdade é que fiquei surpreendido por haver coisas assim, não vou dizer que sinto nojo.
neste momento apercebi-me que ela era afinal muito bonita, que poderia desejar estar com ela, mas que ao mesmo tempo o seu mundo era muito diferente do meu e que nada demais poderia acontecer que esta conversa.
- então e o que vos fez aproximare-me tanto?

houve um dia em que um amigo meu disse que queria conhecer uma determinada rapariga que andava a curtir com um outro gajo. segundo o meu amigo E. essa rapariga não estava apaixonada pelo gajo mas a verdade é que ele parecia estar caídinho por ela. um dia cruzo-me com a gaja e meto conversa com ela nos corredores do liceu. ela diz-me que não está apaixonada e que mão vai ficar apaixonada por nenhum rapaz daquele liceu. eu pressenti que ela se fosse enganar. uns dias depois acabo por apresentar a S. ao E. e ele começa logo a fazer-se a ela. digo-lhe para ter calma mas a verdade é que ele não tinha calma o suficiente para conseguir convencê-la a ir para a cama com ele.
passam-se uns dias e ela disse-me que ia dar uma festa em sua casa se não queria ir. por essa altura eu e ela eramos já boas amigas e ela havia-me desculpado a cena do E. eu acabo por aceitar o convite e na noite seguinte lá vou ter a casa dela. poucas pessoas estão na festa, apenas os amigos mais chegados. porém, eram umas três da manhã o L. com quem tinha tido umas conversas fixes pergunta-me se não gostaria de foder com ele. a verdade é que poderia ter recusado como boa menina que era mas resolvi aceitar.
naquele quarto fizémos de tudo. quando acabámos a S. está à entrada do quarto a olhar furiosa para o L. e para mim. "como é que pudeste?" seguiu-se uma daquelas discussões habituais entre teenagers mas eu resolvi amansar um pouco as coisas dizendo-lhe que eu não quereria ter nada com o L. nessa altura nós os dois não sabíamos que ela tinha uma paixão secreta por um rapaz que andava na universidade e que era este L. abraço com força a S. pedindo que me desculpasse por todo o mal que lhe tinha feito mas não fora por mal.
reconciliamo-nos e começamos os três a dar-nos muito bem. entretanto vem para o nosso liceu um rapazito muito bonito, mas que muita gente o achava gay. a verdade é que eu calhei a cruzar-me com ele no corredor e ele perguntou-me onde era a sala 307. digo onde é e passados uns tempos ele vem ter comigo a a gradecer e fazemo-nos grandes amigos. apresento-o ao L. e à S. que nessa altura ainda namoravam, assim como ao J. que era um amigo do L. quando o R. conhece o J. fica completamente caídinho por ele e percebemos logo que ele gostava mesmo de gajos mas isso não nos incoodava.
o tempo foi passando e a verdade é que o R. conseguiu curtir com o J. não se seguiu nada mas ficaram numa boa. o grupo foi-se unindo cada vez mais...

- para além de compreender a tua dor, neste momento quase a consigo sentir. é que mais que um marido perdeste toda uma família em pouco tempo.
- eu sei que é estranho, mas é mesmo isso...
levanto-me e despeço-me dela. pago a minha conta e saio do bar. aquela mulher vestida de preto abriu as suas memórias para mim sem que nada lhe pedisse em troca e ela disse-me tudo o que queria saber e até o que não queria. percebi nesse momento que a nossa vida está cheia de fantasmas que só alguns conseguem escutar. os outros... os outros têm as suas coisas, a sua vida, os seus afazeres.

Sunday, June 11, 2006

chego a casa no fim de um dia de trabalho e nada mais tenho a fazer que o jantar e arranjar um filme para ver. à porta de entrada reparo na figura em que estou, os meus braços carregando sacos de compras de um hipermercado. comprei apenas as coisas que precisava e mais algumas que podem vir sempre a dar jeito.
pouso o monte de sacos em cima da mesa da cozinha e arrumo as coisas. tralhas de coisas que se vão gastar em três tempos. bem que poderiamos morrer na nossa gula...
ponho uma panela com água e sal no fogão e encosto-me à janela da cozinha e olho para o horizonte. sem que me aperceba um carro pára em frente ao prédio onde moro. não olho para o carro senão quando saem dele uma rapariga bastante bonita e dois gajos lindos em tronco nu. só agora me lembro do calor que faz e de como ficaram as minhas mãos de ter vindo do hipermercado a pé. sinto o cansaço a apoderar-se de mim e ao mesmo tempo uma enorme excitação pela visão daqueles dois pães lá fora. invejo aquela rapariga; eu é que deveria lá estar e não ela...
por fim resolvo-me a fechar a janela com toda a raiva que tenho e seguir a minha vida normalmente como estava antes de começar a olhar pela janela.

fecho a janela do meu quarto. há dois dias que não dizes nada. ligaste-me do aeroporto mas mais nada. cai-me uma lágrima que rebola até ao chão. o meu desespero atinge o limiar enquanto o telefone não toca. bem sei que tens muito que fazer, mas... imagino-te a seres perseguido por uma tentação e... bem sabes que sou mto desconfiado e ciumento, nunca to escondi.
desde que começámos esta relação que tenho ficado completamente psicótico. a minha obseção para que não arranjes um amante ou ainda pior uma amante... sempre que vamos a uma discoteca tenho de virar os olhos porque parece que conheces toda a gente e toda aquela gente é bonita...
deito-me na cama pensando nos meus tempos em que não namorava e não me perdia a pensar na pessoa que me ia trair. arranco do meu corpo os boxeres que tenho vestidos e atiro-os para a porta do quarto. sinto a escuridão do quarto insuflar pelos meus poros e encher-me de vigor másculo. masturbo-me à força toda e venho-me com um gemido de sofrimento. no momento seguintes estou a chorar na almofada... porque estás ausente...

todas as noites que saio de casa tenho sempre o mesmo pensamento. vai ser hoje que vou sair daquele restaurante; estou farto dos meus patrões. estou farto de todas as coisas que me dizem e da forma como me tratam abaixo de cão. sempre tentei fazer o meu melhor mas parece que isso não é suficiente e bem sim bem não tenho algumas discussões acesas com as pessoas que me dão o ordenado ao fim do mês.
farto-me de trabalhar e noto todos os meses a diminuir-me as horas que fiz no mês anterior. todas as noites que saio de casa penso que este mês vai ser o último e não consigo. estou tão habituado a viver assim que não quero mudar.
porque é que nunca estamos bem???
sempre que saio do trabalho pergunto-me porque não me despedi. todas as noites sinto a mesma frustração. sempre assim, sempre na mesma, com vontade de mudar mas sem forças para isso...

Thursday, June 01, 2006

ocorre-me a ideia de ligar o computador e ver quem anda on-line. esta tarde está calor demais para estudar e não me apetece. enquanto de liga tiro as roupas e coloco-as em cima da cama. fico completamente nu em frente ao pc procurando engatar alguém com quem passar um tempo.
olho profiles de certos sites tentando ver quem anda perto e é fisicamente interessante. excito-me enquanto lá fora o calor continua a fazer-se sentir e a minha pele sua.
passo as mãos pelo peito e aperto os meus mamilos. imagino um daqueles gajos a lambermos e enquanto isso vasculho desesperadamente por alguém. ahhhhhh!!! porque é que os gajos mais interessantes são tão difíceis e as putas são demasiado fáceis?

acabo de sair da discoteca do costume e um gajo de carro passa por mim. não consigo resistir-lhe. ele pergunta se não quero ir com ele e eu faço-me logo ao piso. assim que arrancamos ele diz-me que éra casado até há pouco tempo mas que se divorciou e não procura agora uma pessoa para namorar, o que achei estranho e ele disse-me que já andava farto de estar casado.
ele leva-me por uma rua bastante escura onde sei que vão para lá pessoas de carro acompanhadas "bater umas". ele pára o carro e encosta-se à porta do quarto e olha-me de cima a baixo. levo a minha não às suas coxas e desliza depois até ao seu pénis que sentia começar a encher-se de tusa.
Depois de termos sido rápidos o suficiente ele arranca a toda a velocidade e deixa-me a uns cem metros de casa. assim que entro ponho-me no chuveiro e procuro esquecer o que se passou; não foi mau, não foi bom... teve o seu quê. melhores virão.

arrumo as minhas roupas e abro a minha mala de cosméticos. é noite. faz-se tarde... a tanga já está vestida e o resto do fato vai a caminho. a vida d artista tem a sua complicação. esta noite é o aniversário de um dos patrões da casa, por isso terei de fazer um espectáculo especial.
eis que chega a minha maquilhadora pessoal, quem trabalha bem tem dests regalias. de qualquer modo ela chega e refila por ainda não estar completamente vestido. "queres causar má impressão, logo hoje?" ao que respondo: "não me importava" mas ela percebe que estou na brincadeira e temos uma discussão simulada. a verdadew é que por detrás do palco muita coisa acontece...
depois de me ter ajudado a vestir, pega na sua maleta de trabalho e em algumas das minhas coisas. mistura os ingredientes como se de um alquimista se tratasse e pinta-me da ponta dos cabelos à ponta dos pés. não esquece nada.
hoje sou de branco. os meus olhos têm o reflexo do gelo e a minha boca parece que é a de um morto. o fato é também ele branco muito discreto mas por todo o corpo encontram-se sinais de uma estranha escrita; o meu numero será muito místico hoje. nada daquelas coisas que habitualmente costumo fazer, tipo marinheiros ou tropas. hoje o meu caminho é o tribal. a minha música de entrada faz-se ouvir e o meu corpo desliza para o palco como se para a forca fosse. as luzes estão sobre mim e o meu corpo ondula. não sei mais do que se tem andado a passar comigo nem das discussões intensas que tenho tido com os meus pais. o que importa é fazer as coisas bem feitas.

abro os olhos para a esquina da minha vida. durante anos passei por aqui e hoje sinto que esse tempo já passou há muito. durante noites percorri e esperei. sempre fui profissional, nunca deixando nenhum cliente insatisfeito. é verdade que quando comecei esta vida não a queria por nada; mas uma pessoa habitua-se. hoje sinto que envelheci demais. sinto que todas as roupas que comprei para trabalhar, algumas que me custaram balúrdios, não vão mais sair do armário; que o seu tempo já passou e que o dinheiro nelas gasto fora uma péssima ideia. mas agora é tarde para lamentar; nunca soube fazer outra coisa da vida e, pelo menos, da noite tenho tudo a meus pés.
sempre me trataram com respeito, ou não fosse eu quem sou.
de qualquer forma a noite continua sem mim. noites houve em que me chamavam para os lugares mais importantes para fazer recepção dos clientes e chamar mais gente a entrar. sempre me pagaram bem, nunca me senti injustiçada, também...
agora na noite ninguém me chama. poucos clientes me vêm parar às mãos... envelheci, não adianta tentar esconder; o meu tempo acabou e so me resta pegar em contactos que tenho para terminar a fazer algo que me dê que comer.