Sunday, July 24, 2011

Uma GayChoice - Uma lista para ouvir

Ficam umas sugestões musicais. Podem agradar a uns mais que a outros mas não posso agradar a gregos e troianos. Como estamos no Verão, mesmo não se notando, fica uma sugestão mais dançável.
Lista:
1. Shine on me - Taito Tikaro & Ferran
2. Pulpo negro - Pedro Marin
3. Reach for the Stars - Antoine Clamaran
4. In and Out - Armin Van Buuren
5. San Francisco - Cascada (San Frandisko Remix)
6. Total Eclipse Of The Heart 2011 - Nicki French (Total Bromance Club Mix)
7. Alexandro - Lady Gaga (Dave Aude Radio Mix)
8. Cooler than Me - Mike Posner (Gigamesh Final Version)
9. Happiness - Alexis Jordan (Deadmau5 Extended Mix)
10. Taio Cruz - Dynamite




















Uma GayChoice - Um livro a ler

Como estamos no verão e sabe bem a praia fica uma sugestão de leitura de um livro que tem vai dando que falar pela sua beleza e ao mesmo tempo pela sua rebeldia. Falo do livro: Os Anjos Maus de Eric Jourdan editado em 2009 pela Bico de Pena.
O texto conta a história de dois rapazes muito novos que partilham um conjunto de experiências que vão do erótico ao violento.
A primeira vez que li o livro  fiquei inundado por um texto impressionante que rasa o erótico com uma tal pureza de juventude que chega-se a esquecer de toda a relação. O livro desde a sua publicação que foi considerado "impróprio" devido ao seu conteúdo.

Os Anjos Maus é sobretudo uma «história de amor sobre aquilo que nos dá uma protecção eterna contra a velhice: o sangue e a pele da juventude.» Pierre e Gérard são primos, estão dispostos a tudo, e vão pagar caro a paixão que os une. Como diz o narrador, «o homem harmonizava-se com a sua necessidade.»
«Matei por amor. Recordo toda a noite. Pierre estava preso a uma trave baixa; eu tinha atado os seus punhos com uma corda. [...] O chicote era o meu braço [...] Eu deixara de ser um rapaz, era a violência com rosto de rapaz.» Gérard viola e mata Pierre por ciúmes. É uma cena brutal: «Vi que havia feito amor no sangue.» O suicídio é o corolário.
A história é contada a dois compassos: primeiro a narrativa de Pierre, nimbada de lirismo e melancolia; depois a de Gérard, sem poupar no grafismo, em particular nos episódios envolvendo terceiros. Com Philippe, por exemplo: «O seu perfil abriu-me as nádegas. [...] Agarrei-lhe a nuca por baixo e esmaguei-lhe mais a cara. A sua língua violou-me [...] eu sentia-me mais viril, pois a minha força inspirava essa homenagem e o homem que em mim havia gostava de se dar ao luxo de um prazer passivo.» Não admira que o puritanismo do pós-guerra se tenha sentido ameaçado. O silêncio dos intelectuais continua a ser um mistério.

Com elementos de Pierre & Gérard, in Ípsilon, 30-1-2009, p. 35. Quatro estrelas.

Uma GayChoice - Um filme a ver

Um filme que num destes dias à noite estive a ver e que recomendo. Não se trata de mais um filme gay a criticar fortemente a Igreja Católica ou mais um filme sobre pedofilia e abusos por padres. Trata-se de um filme que consegcom ue um concílio entre duas coisas: uma profissão que exige a castidade e os problemas do mundo sexualizado em que vivemos.
O Padre Greg Pilkington (Linus Roache) é colocado entre as suas chamadas como padre católico conservativo e a sua vida secreta como homossexual com um amante gay. Depois de ouvir a confissão de uma jovem dos abusos incestuosos do pai dela, Greg entra numa imensa luta espiritual e emocional intensa na decisão entre escolher as coisas morais acima da religião e de uma vida sobre a outra.
O filme em si é simples, sem grandes efeitos, mas com desenvolvimentos interiores fortes. Podemos entrar dentro das personagens por teres uma construção forte.
Assim sendo, peguem nas pipocas, sentem-se no sofá sozinhos ou acompanhados e desfrutem  - que é para isso mesmo que estamos nesta terra...

Realizador: Antonia Bird
Argumento: Jimmy McGovern
Actores principais: Linus Roache, Tom Wilkinson and Robert Carlyle
País: UK
Língua Original: English
Data de estreia: 19 Janeiro 1996 (Portugal)




Quadro com um anjo


Em sonhos em vejo um anjo. Um anjo a cair do cimo de um edifício. E reparo nos olhos fechados, aguaradam o fim. A queda é longa e a vejo lenta.
No meu sonho os seus cabelos são vermelhos. Estão ardentes de paixão. A paixão que recusei. O seu corpo veste-se de feridas ainda não saradas, veste-se de sangue e suor. Suas asas não mais funcionam. Como um gato diante de Alice elas vão desaparecendo. Ficam cada vez mais ténues. Por fim ficam invisíveis.
Todo ele se abandona à queda. Ele sabem que vai morrer, e quere-o. O vento acaricia-o, aconchega-o. As asas do vento beijam-lhe o rosto. A boca romã vermelha mantém-se inexpressiva, pura. Como aguardando um beijo. O meu beijo
O corpo se abandona na vertigem. Desce. Aceita a gravidade. Por cada instante foi empalidecendo. Ele afunda-se até ao abismo da morte. Como o corpo arrefece! Esse desprendimento é largado à maior das decepções. O corpo na queda vai abrandando o seu ritmo. Esquece de ter de dar alento.
Eu o vejo cair em meu sonho.
Ele cai pela força que o puxa. Cai com a tentação de Lucifer a descer ao lugar dos condenados.
O coração esquece. A alma abandona. O corpo arrefece. O sangue gela nas veias. Torna-se pedra. Esquece de correr.
Num curto instante. Tudo num instante.
Vejo-o cair.
O chão aproxima-se.
Qual copo de cristal, chega lento ao chão. Parte. Estilhaça. A dispersão do seu corpo leva-o ao Hades. Torna-o uma nebulosa de estrelas.
Um clarão.
Tudo se apaga. Ele se abandonou até ao último golo de vida pelo viver do seu amor. E eu, eu o recusei.
Eu o vi cair. Nada pude.

Quadro com um anjo


O ser demoníaco que era anjo precipita-se do topo da catedral. A sua vontade primeira é suicidar-se. O seu primeiro desejo é o da morte. A sedutora morte.
Com a sua queda do céu ele ficou cheio de energia. Eu sem ela. Enquanto ele se levanta, eu me deito e encolho cheio de dores. Eu lhe dei a vida mortal. Eu lhe fui sua mãe, o progenitor de um demoníaco anjo que nasceu numa noite gelada.
Ele olha do alto da catedral para o longe chão. Sente uma vertigem. O seu corpo estremece. Não mais se lembra do anjo que era. Esqueceu tudo. Agora lhe ficou apenas uma maldade carnal.
O desejo da morte volta-lhe. Ele sente o seu chamamento. Talvez fosse a sua porta de saída. A lua descoberta e despida, as estrelas distantes são um chuveiro que lhe limpam a clara pele do anjo caído dos restos de sangue. Cobrem-no da prata da noite. Abençoam os actos que venha a fazer. Naquele instante, apenas um desejo de acção o envolve. E é apenas um.
A morte.
Os seus olhos claros abraçam a queda. São puxados por fios invisíveis como se fosse uma marioneta. o crânio inclina-se para baixo. Curva-se o pescoço. O peito também se inclina. Todo o pensamento está dirigido para baixo. Cai. Vai caíndo lentamente. As mãos afastam-se do corpo, colhem o invisível ar onde antes tanto ele lia. As pernas dobram-se ligeiramente.
Eu vejo-o cair. A imagem me perturba de tal modo que as minhas entranhas doem mais fortemente. Mais fraco estou. A cada minuto mais fraco. O seu suicídio é também a minha morte. Sinto vontade em gritar mas o som fica preso na minha garganta. as cordas vocais enchem-se de líquido. Tusso. Tusso sangue.
É a morte.
Os seus pés cor de prata esticam-se até às pontas. Eles lança, todo o corpo como uma mola.
É a morte. É o vazio.
Vácuo.
Sufoco.
Ouço o pulsar do resto do meu sangue na aorta. Não consigo gritar. Tudo se fecha. Tudo.
Mal consigo respirar.
Que é feito dele? Morreu?
Todo eu agonizo. Imagino-o cair em cada fracção de segundos. Vejo o corpo abandonar-se. Vejo o sangue no chão. Vejo-lhe a sua morte. E deixo de ver...