Saturday, April 16, 2011

Carta a Alfred Douglas II


Janeiro de 1893?

Babacome Cliff

Meu rapaz,
O teu soneto é muito lindo e é uma maravilha que os teus lábios vermelhos de pétalas de rosa tenham sido feitos não menos para a loucura da música e do canto do que para a loucura do beijo. A tua fina alma dourada caminha entre a paixão e a poesia. Eu sei que Jacinto, aquele que Apolo amava loucamente, eras tu nos tempos gregos.

Por que estás sozinho em Londres, e quando vais para Salisbury? Vai até para esfriares as mãos no crepúsculo cinzento das coisas góticas, e vem aqui sempre que quiseres. É um lugar lindo e faltas apenas tu, mas vai a Salisbury primeiro.


Sempre, com amor eterno,
Atenciosamente,

Oscar

Carta a Alfred Douglas I

Saudações para Encombe

AC

Queridíssimo Bosie,

Fico muito contente que estejas melhor e que tenhas gostado da pequena caixa para cartas de jogar.
Oxford é bem desconfortável no inverno. Vou para Paris na próxima semana ou nos próximos 10 dias ou algo parecido.
Vais mesmo para as Ilhas Scilly?
Eu gostaria tremendamente de ir a sítio algum contigo, onde haja calor e seja colorido. Eu estou terrivelmente ocupado na cidade.
Tree apressa-se a ver-me em todas as ocasiões. Também personalidades estranhas e problemáticas andam em falsos aparatos.
Acerca do poema eu escrevo amanhã.

Sempre teu
Oscar

Saturday, April 09, 2011

GayChoice - sobre o insólito

Falemos um pouco sobre a nossa língua. Vou analisar a palavra insólito.
Atípico
Estranho
Extraordinário
Inabitual
Inesperado
Inusitado
Tudo isto é insólito. Tudo isto é estranho, tudo isto é fado - mas que raio vem para aqui o fado fazer...
Quero falar sobre o insólito e o que é mais extraordinário é não ter nada a dizer. Que o mundo é inesperado, todos bem o sabemos. A minha contribuição para este blog pode ser em mostrar que o nosso papa (Só se for teu porque nunca teve comigo na cama). Teve no natal passado um encontro de quarto grau, que eram quatro, com contorcionistas que se exibiram lascivamente diante de sua santidade. Este muito santo, olhou embasbacado. Basta reparar no vídeo.

(QUE POUCA VERGONHA... O PAPA É UM DEVASSO)
Não sei que se passa hoje, mas parece que estou a ter uma interferência na escrita deste artigo (DEVE SER DEVE. MAS CONTINUA LÁ).
O que torna este vídeo inesperado é o facto de todas as freiras estarem a acenar como se fosse a cerinónia do adeus.
(O QUE ELAS ESTÃO A FAZER É A CHAMÁ-LOS, QUE NÃO ENGANAM A NINGUÉM.)
Uma coisa que também não deixa de ser insólita é a utilização do facebook como se fosse o registo diário das acções de algumas pessoas. (CHEGAM MESMO A DIZER COM QUEM FORAM PARA A CAMA ONTEM)
Veja-se o caso de no facebook aparecerem frases como: xpto iniciou uma relação há um minuto!? desculpem mas a precisão do facebook é espantosa.
Quando andei a vasculhar no youtube por peculiaridades e fotos escabrosas dos chamados upss a verdade é que tinham sido removidos.
(OS FACHISTAS!)
Alegando sempre motivos de violação de direitos.
Mas vasculhando na minha imaginação achei uma coisa deveras insólita para uma senhora Tyra Banks:

(PLEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEASE)
e para terminar algo deveras Kitsch, algo completamente... insólito, atípico, será?


Um GayChoice inspirado em...

Começo o GayChoice de hoje com Pet Shop Boys (tão previsível para um blog gay!). É verdade. Hoje decido iniciar com um grupo que muito já tem dado que falar e que caminha sempre ao lado do mundo gay. Mas não vou falar muito do grupo. Vou simplesmente pegar numa das suas músicas como mote para este artigo.

Vai para o trabalho e atende as tuas chamadas como muita gente faz num dos mais vulgares trabalhos neste país: operador de call center. É falando de trabalho que quero começar ao som de uma carta do dia vermelho.
Durante todo o dia Pendura os frutos do teu trabalho nas paredes como se isso fosse a coisa mais importante que haja a fazer, com uma Tal precisão e cuidado que O que importa é não
haver ninguém para compartilhar. Este é o drama do trabalhador que nestes dias habita neste país. Nem mesmo os que vendem o seu corpo ficam isentos que os clientes vão escasseando cada vez mais. Todos dizem que é da crise. Mas que MERDA já ando farto desta crise. Solicito que seja criada uma comissão de impedimento do espírito de crise tão generalizado.
Eu ainda tenho as minhas Flores no jardim ou na garrafeira o meu Blue Wine a ver uma apresentação muito pouco profissional de teatro do "À Espera do Godot" e tudo isto deve ser visto á luz de um tempo moderno. Moderno porque nos queremos modernos. Porque é moda estar moderno e tanto tempo moderno?
Tudo que eu quero é o que queiras estar sempre à espera de um dia memorável. E a espera continua… valem-nos as festas e as noitadas de copos que passamos. Se assim não fosse passávamos o tempo com o rosto das noivas que aguardam serem casadas no vídeo da dita música que serve de referência. Como as coisas modernas são tão, tão…, são tão modernas! O ser-se moderno é estar na vanguarda de alguma coisa que nunca ninguém ainda percebeu muito bem. É estarmos dentro de um filme do Tati ou de um livro do Kafka num tão embrulhado processo demasiado burocrático para percebermos os seus passos.
O que nos vale é que o aperfeiçoamento dos anos numa postura de medida legal nos fada a existência num conjunto extravagante de preceitos e normas e dependências novas que acabam por ser para algumas pessoas mais velhas fados de insignificâncias. O que vale é que começamos a entender tudo o que nos rodeia e começamos a deitar fora o que achamos que não nos serve. O que achamos… será que largamos tudo o que nos é essencial? Será que largamos os nossos velhos hábitos? Eu não quero ser demasiado “padre” a pregar num púlpito porque no momento em que se começa a entender tudo o que na terra é o lucro de um homem, começa a procurar cultivar-se a ignorância. Assim, por exemplo, as pessoas são bombardeadas com notícias insignificantes. São envolvidas em filmes que nada trazem senão devolver-nos ao estado de homens das cavernas.
Tudo que eu quero
é o que quiseres
Estou sempre à espera
de um dia memorável e enquanto isso continuamos na fila interminável de pessoas que se mantêm à espera de serem iguais aos seus ídolos. Todos queremos ser uns Elvis, uns Hulks, uns Apolos, todos queremos ser iguais a este e àquele, todos queremos ser garanhões e andar a foder com este e aquele (que me perdoem a linguagem, mas achei a mais acertiva), ou de termos um casamento com um príncipe ideal que manterá a sua fidelidade para todo o sempre e para todo o sempre seremos felizes. Tal como uma história interminável. A dado momento o cantor sai da filinha indiana. Será que queremos sair da linha? Tornarmo-nos independentes?
Se calhar não quero. Se calhar não quero mesmo deixar de andar a dar as minhas voltinhas com quem queira e assentar num clima de castidade (esse seria verdadeiramente um grande trauma, pior que as abelhas assassinas, o filme). Pois é… ao contrário do cantor, que diz que para algo especial
algo novo
alguém a dizer 'eu amo-te'
Querido, eu estou à espera
para o dia vermelho – eu responderia… que espere sentado. E não é que ele adivinhou a minha resposta e responde:
“Podes gozar ou desaparecer por trás de um verniz de auto-controle…” a verdade é que gozamos um com o outro porque quando tentamos ser o mais “normais” (iak) procuramos seguir um conjunto de regras de encontro aos nossos ídolos de pessoas bem sucedidas na vida.
Mas para todos aqueles que não se encaixam que seguem seus instintos e são informados de que pecam esta é uma oração para uma forma diferente. Será que o quero? Esta é sempre a questão. Nunca se quer mudar e todos queremos superar os nossos ídolos e ser mais ídolos que eles.

Tudo que eu quero
é o que quiseres
Estou sempre à espera
para um dia memorável

O resto da música fica para a vossa imaginação que eu tenho ali um rapaz a piscar-me o olho e devemos ir para algum quartinho alugado enterrar-nos num momento quente sem qualquer significado. Para quê esperar mais do mundo.