Saturday, June 30, 2007

meus olhos em pérolas feitos, baços como neve

olho cadáveres apodrecendo,
não mo permitem aos vivos.
é como se o olhar matasse
aquele que matar se quer
ou de olhar se sujassem
as mãos de um crime inocente
em dormindo eu tem lugar

concedem-me tempo e vejo,
algo como um horizonte
algo perdido num Gólgota.
vejo minhas mãos carnais
envidraçando-se como olhos,
meus que de tanto chorar
perderam a capacidade de olhar.

Tuesday, June 19, 2007

ofícios em retrospectiva

vejo que nada sinto, vazio
que minhas pobres mãos
tão vazias, abandonadas
rezam para terem vida
viajam pelo couro solar
de um cavalo feito eu
pesquisa de coisa nenhuma
cavalo de bronze em brasa
um solstício em declínio
uma morada ausente das cartas
e ainda assim tenho mãos
sejam elas cortadas de mim
mais que tudo quero vida
em esta morte desesperante
que profundo seca corações
faça-se em mim esse solo
essa luz que brilha no alto
e ilumine o meu caminho
oculto em copos de brandi
mãos que tão mortas viajas
pelas brumas de um ser
que habitas a calma de viver
sem que vida saibas ter
abres a janela e regas o vaso
tomas banho e secas o corpo
mãos que não sabem fazer trabalho
trabalho que de homens sendo
de homens não sabe fazer-se
e escolhem esconder-se
mãos que não sabem falar
como a língua sabe dar
escondem as palavras que esquece
essa boca tão veloz, fugidia
entrega-se ao calor ao frio
e nem nisso tem valor
minhas mãos não valem nada
mais valia que mas cortassem

não escreveria eu isto...

ausência - um soneto disforme

só porque não estás aqui a tua presença me falta
só porque não podes é que sinto que não sou teu
só por não teres vida para mim me sinto sozinho
só por todas as coisas que me dizes sou mais feliz

às vezes procuro um instante de ti comigo ao lado
às vezes dou por mim a cheirar a tua usada roupa
às vezes sinto que queres algo e não sei como agir
às vezes tenho medo de falhar e penso que falhei

e, no entanto, é apenas mais uns instantes sem ti
tal como muitos outros dolorosos e convidativos
que me chamam a sofrer mais um pouco talvez...

espero que venhas e mais o ainda distante tempo
e sofrer parece mais doce só por te ter à espera
e enquanto sofro ardo em prazer de tua presença

equações de milésimo grau


P. é como se fosse o pai do grupo.

J. é o intelectual.

M. é o mais libertino de nós.

A. é o mais velho.

D. é o mais doido.

R. é o talvez o mais distante de alguns de nós.

I. é o mais novo, aquele que tem ainda muito que aprender.

S. o que de nós se afastou por esta ou por aquela razão.

F. o que neste momento só diz mal de M.

T. o que junto com F. inventam histórias o mais malucas que se possam imaginar.

V. o que soube por T. que D. e M. supostamente namoravam.

P. o que disse a D. que S. e M. tinham estado os dois juntos quando S. namorava R.

L. namora actualmente S.

W. esteve com S. uma vez.

Y. viu há dias W. com S., estando S. a namorar L.

O. gosta de D., mas D. não que namoro com O. mas antes com H.

Q. gosta de I. mas não o admite, disfarçando.

Q. conhece H. e diz isso a I.

I. quis namorar com O. mas O. não quis porque O. gosta de D.


complicado? experimentem ter a minha vida...

Sunday, June 17, 2007

sem mais que...

borboletas na minha rua não mais têm onde ir que não seja a minha casa. dançam em corropio em torno de jorros de leite e fel, jorros de vulcões viscerais pensando alcançar o cimo da pirâmide... ouvem-se noticiário de manhã à noite e eu penso para mim mesmo que estou cada vez mais maluco e que tudo o que sabia já deixou de ser conhecimento e passou para a ala do esquecimento. entretenho o olhar nessas borboletas maravilha dos ares que, por não serem Ícaro não voam alto demais. os sonhos, as palavras, as ideias não são mais que ejaculações da copulação de mais ideias que temos e que se umem para tentar criar a nossa ruína. olho as borboletas para me lembrar que elas não têm para onde ir e eu tenho semrpe algum lugar onde ir, alguma coisa que fazer sem conseguir escapar-me da campânula de vidro que sou eu mesmo... o que fiz eu para agir da maneira que ajo? que fiz eu... entras de rompante no quarto onde o meu olhar vagueia com as borboletas e me deixo inundar pela sua cor, podem não ser bonitas, mas eu gosto delas na mesma. vens e deitas-te ao meu lado. o teu olhar cansado, ausente adormece quase instantaneamente e eu perco-me a olhar-te. olho-te, olho-te até as minhas lágrimas secarem. olho-te para me lembrar que te amo pois a tua presença na minha vida já mal se faz sentir...
silencio
parece que a tempestade passou e posso enfim dormir... as borboletas sairam já também e estamos nós os dois sozinhos. o vento espaneja as cortinas da janela aberta que os nossos olhos vêm. o gosto, o paladar, a musicalidade das palavras que me dizias (como me lembravam um velho porto servido em copos do vidro mais puro) desapareceram como se sublimassem e o éter da nossa paixão foi-se evaporando dos nossos corpos cansados de foder e de beijar. parece que o amor nos esqueceu, que o amor para nós morreu...
silencio
os teus cabelos derramam nódoas negras nas ranhuras da trama dos lençóis da almofada em que repousas. parece que têm vida e se vestem de serpentes para reclamar os corpo que é seu e que a ele não tenho tido acesso. os meus ossos vibram como canas, como varetas de um diapasão fazendo soar ondas puras, que puro maior não existe e eu apenas quero agora dormir, não quero pensar em ti e a tua sombra me persegue. o quarto é um espaço vazio onde me abandono ao teu domínio que farpeia a minha pele morta...
silêncio
espalhas raízes à minha alma desesperada feita pão bolorento. nela pousa uma última borboleta fazendo um esforço para não me achar uma peça nojenta. ao vê-la masturbo-me em desespero contínuo procurando uma última gota do que pudesse existir entre nós. o que sinto não é mais que uma decepção, uma profunda bebida amarga do fundo de uma garrafa cujo prazo ja acabara e azedara. nem para vinagre servimos. a nossa alma conjunta morreu, as nossas memórias foram queimadas, a nossa cama se keimou e morremos...

Saturday, June 16, 2007

manhã de limpeza

enternecidamente olho a janela procurando a beleza de um instante nesta manhã tão submersa em remoinhos e raivas. socumbo a cada instante por uma pequena gota a mais desse teu perfume tão intenso como a noite da minha alma que te repousa em um sono profundo. os meus dedos tacteiam os límpidos poros da tua sede de sonhar. não sonhas - não sonhes, não quero que partas da minha presença para te encontrares com os teus semelhantes.
o teu peito robusto como um escudo oferece-me uma segurança que não consigo alcançar e as tuas pupilas não são manhãs ainda - era meu desejo fazê-las raiar. o teu sono faz-te perderes nas mangas da minha sedução e a dissoluta vontade de ser teu invade o meu espírito - meu deus como abomino as paredes entre nós, entre os teus modos e as minhas segurnaças irreais.

sem me aperceber como estou nu numa paragem de metro com vários fotógrafos a retratarem-me nas suas películas instantâneos da minha vida. e na boca sinto ainda o teu suor, os teu beijos feitos brancura da alvorada. danço freneticamente na minha tão negra dos nossos atrevimentos e das nossas diversões nocturnas, ainda me lembro de quando te arranquei de casa dos teus pais para vires comigo e no combóio chocámos toda uma carruagem só porque nos beijávamos intensamente e eu tentava tirar-te a camisa que trazias já colada ao corpo pelo suor de apanharmos transporte. na retrete vimos um preservativo redemoinhar pacientemente de algum passageiro que, à semelhança de nós desejava prazer... eu apenas te queria comigo, a meu lado a devorar todas as maçãs da árvore do conhecimento divino com o leite de mel dos deuses a irrigar a nossa guerrilha.
os estranhos que nos miravam como câmaras de filmar eram para nós paisagens em declínio nesse inverno de incertezas - oh quantas não tivemos nós... só de lembrar que não querias tocar-me e aprender-me em prazer.
às nove em ponto aparece a empregada. a limpeza dos quartos e das provas da nossa existência carnal são apagadas da memória dos estranhos e o brilho dos cristais faz-se ver novamente. a cidade, inaculada de pecado privado solta para a rua as suas curiosidades de manhãs a raiar um sol negro, sem sabor e nós limpamos a vida, as nossas preocupações nessa mesma cama, nessa paragem de metro ou no combóio pendular.

Sunday, June 10, 2007

eternis

sempre a lembrar-me que nasci num dia estranho
pensando nas coisas que são me hão-de sair
fujo dos livros que me obrigo a escrever
para todo o sempre em paz perecer
vejo-me em grande perturbação
sonho uma grande inundação
só para que encontre algo
para ver se o apanho
e torno mais minha
minha vontade
de perecer