Wednesday, September 27, 2006

11-Set-06

Pensamento do dia: Finalmente o regresso.

Monday, September 25, 2006

Dominó Negro (07-Set-06)

Visto o meu fato de dominó negro
Com duas pintas por cinco
Fato pobre o meu
Mais pobre que arlequim pois esse virou moda e chega a custar mais.
Baile.
Afundo-me no meio da multidão
Incógnitos no meio de um baralho de dominós negros
Que não têm dinheiro
Ou não querem ser reconhecidos.

Não brilho na dança
Nem espero encontrar par
Procuro ver-me perdido no meio da gente
Que mais não tem que fazer
Apenas piropar.

A roda gangrena na valsa da meia noite
Sem me dar conta empunho uma loura inglesa
Pede-me que dance.
Eu acedo sem me recuperar do susto.
Voltas e voltinhas...
Saltos...
Um...
Dois...
Três...
Próximo andamento...
Ritmo...
Sob o jugo de uma mão ao meu ombro procuro dançar
- Triste destino o meu, só queria ficar só -
Espero ansiosamente que a musica acabe
Dar uma desculpa apressada,
Sair.

Vejo-me em casa.
Dispo o meu triste fato de dominó negro
Deixo-me cair na piscina
Afundar-me.
Ouço uma sinfonia enquanto boio sem destino.

Preto...
Preto...
Funerais...
Abadias, coisas non sense no tom da sinfonia.
Cheiro a naftalina do dominó à espera do próximo baile.

Thursday, September 21, 2006

Que foi isto que via seguro?
Como acontecera?
Essa coisa eterna
Que roubara a minha carne
Que é feita dela agora?

Entendi para onde ia
Para onde me levava
Maculado com imortalidade.
Soltei o meu barco
Larguei a minha amarra
E, milagre!!!
Estou vivo depois do inferno eterno
Que roi a minha alma
E devora a carne.

Sonhar Assim... (07-Set-06)

Um jardim jardim inteiro de delícias maravilha a minha alma,
Já de si tão iludida,
Desdobrando-se em mil fontes gerando riqueza
Mil estrelas cintilando nos céus,
Mil aves cantando na aurora;
Uma delícia vinda,
Não das Arábias portadoras do seco deserto,
Mas de uma Paris feita Amazónia
Onde uma Notre Dame é coroada com lianas e catatuas,
Onde a Eiffel copula com boas e relas,
Onde as trepadeiras invadem os centros tecnológicos pedindo harmonia.

Maravilha-me este jardim
Onde o homem pôde encontrar o frágil equilíbrio entre o ser e a natureza,
Onde pôde escolher entre uma aspirina ou uma tisana,
Onde coros cantam acompanhados de órgãos e aves,
Onde um comboio não perturba…

Poder escolher e ter…
Fora este o dom que tivesse eu recebido no meu nascimento
Em vez de tristemente assistir ao espectáculo
The falling man
E muito faria pelo mundo.
Vejo-me perdido entre cidades
Desfazadas de sentido, de alma
Mascaradas apenas,
Ofuscadas por cartazes, miséria e neons.
Não queria eu isto
Antes um airbus que me levasse
Para uma ilha deserta
Onde vivesse isolado com um computador, natureza e energia.
Faria mil coisas,
Comeria frutos,
Leria livros mil,
Veria filmes da Europa, China e Hollywood,
Assistindo impávido à queda do homem via CNN.
Entretanto fazia uma pausa para cuidar do meu jardim.
Não precisaria de encomendar roupas,
Mas teria tudo aqui
Veria a decadência do mundo
Como se fosse Deus.

Possa eu um dia sonhar assim…

Wednesday, September 20, 2006

Entranha-se no meu ser, mais uma vez, uma irreprimível vontade de discar aquele número que a minha memória retém no telemóvel. Bem sei que voz vai atender e o que irá dizer; uma voz profunda vinda dos abismos, de tempos imortais, mas com todo o vigor da juventude. Pergunto-te se estás sozinho, ao que me respondes que estás na rua com imensa pressa. Sei que de nada irá adiantar insistir para entrares num café e ires ao WC. Para todos os efeitos estás com pressa.
“Vem ter comigo.” Proponho ousadamente. Sei que te farás de difícil mas ao dizer-te que te pago… a coisa ajeita-se e acabas por aceitar o meu convite de vires a minha casa.
A campainha toca. Um vizinho chateia-me com uma reunião de condomínio; agradeço-lhe a preocupação de me informar e digo-lhe estar bastante cheio de trabalho, o que queria dizer era que estava à espera de uma pessoa. Despacho-o. Depois de o meu coração ter tido um sobressalto é confrontado com a decepção. O tempo voa e ele sem aparecer. Tento ligar-lhe mas não me atende. Mais de uma hora espero impaciente até que as minhas forças se esgotam e resolvo procurar esquecê-lo.
Muito mais tarde o meu telemóvel toca. É ele. “Que se passou?” Dizes-me que bateste num carro, se não poderia ir buscar-te. Eu rejubilo sentindo anjos a toda a minha volta. Meio atarantado procuro as chaves do meu carro. Vou ter com ele…
Ele entra-me no carro como um furacão. Vem furioso, a tempestade levantara-se mas o barco ainda estava em mar alto. Cerca-me com conversas banais a que vou respondendo, procurando imolar algum animal aos deuses do mar. A investidura é violenta e inesperada, tropical. A sua mão flúi como um rápido para a braguilha das minhas calças afundando-se no abismo. Os seus dedos dispersam-se e tacteia-me como os tentáculos de um polvo. Cravas o teu espinho venenoso e envolves-me nas areias do fundo.
“Pára aqui um pouco.” Uma onda assalta-me num rompante e eu deixo-me ser conduzido pelas sereias. Os seus beijos lembram-me corais, algas e baleias, coisas majestosas em mares imemoriais. Os tentáculos prendem com as suas ventosas a minha pele; o krakon fustiga o casco do meu navio removendo a sua cobertura. Deixas-me nu. Olhas-me com um olhar teu que me deixa ainda mais despido, como que a perguntar-me “que queres de mim” ao que responderia “que esse caralho me foda!!!”
Apressadamente procuro nadar um pouco para a superfície, apanhar uma valente golada e voltar às profundezas como um apanhador de pérolas. Voltas a cercar-me com o teu exército marinho e eu deixo que me leves até ao palácio de Neptuno onde definitivamente me afogarei. Viro para que invistas contra mim; ofereço-te a minha cara e nela carregas a tua ira; sinto o vaivém ondulatório do mar no meu corpo. Deixo-me ser levado por caçadores até ao centro de um cardume de baleias. Afago-lhes o rosto que é rijo mas mostrando suavidade enquanto o seu esguicho cai sobre mim em terno delírio. Abandono o corpo a essa tempestade que ainda fustiga sobre mim. Deixo que deslize para o fundo ao sabor desse azul penetrante. Pequenas ondulações fazem carícias no caminho do meu corpo até ao fundo. Encimam-se ruínas de uma Atlântida perdida, rodeiam-me túmulos enquanto o meu corpo repousa em cima de um canhão abandonado. Fecho os olhos.
“Acorda!” Uma onda, fria como o gelo bate-me em cheio na cara. Desperto numa praia desconhecida com um rapaz ao meu lado. “Está na hora de ir.” Dou-te algum dinheiro e deixo-te onde me dizes. Volto ao mundo que sinto deformado, distante, feio. Parece que estive como um náufrago anos e anos e voltava agora para um mundo que julgava recordar das imagens que fizera outrora...

Noite de Luar (06-Set-06)

Sei-o hoje com nítida certeza no espírito
Sei-o hoje porque me houveras aberto os olhos
Que me amas
Que me persegues em todos os dias da minha vida.

Banhas-te de luz pálida
Lembrando a palidez da minha alma tornada espuma
Vestes a tua bela túnica
Arrastas-me para a noite cerrada
Eu enfeitiço-me com o teu olhar
Despertando o monstro que Frankenstein fez de mim!

Olho-te
Olho-te e o meu olhar fixa-se em ti
Mais uma…
Todos os meses libertas uma fragrância que desperta os meus sentidos.
No dia-a-dia não te vejo
Só à noite
Só nessas noites
Derramas sobre mim a tua virilidade
E me convertes nessa criatura da noite.

Incendeias-me os pensamentos
Incendeio-te o halo que reveste o teu orgulho!

Merda!!!
Eu preciso de descansar,
Não tenho sono.
Uma impaciência arrebata-se sobre mim –
Poder dormir mas não conseguir…

Lua que minha noite encheis
De insónia nocturna feita canseira
Afastai-vos!!!
Afastai esse halo de mim
Halo monstro feito de falsidão!!!!

06-Set-06

Depois de a fúria e a ira terem passado, eis que uma vontade de fugir me assalta. Sinto-me ser perseguido neste lugar por pessoas que me não querem. O meu corpo mexe-se, agita-se dentro de uma carapaça apertada da qual não consigo sair. Assalta-me uma vontade de gritar, mas não sei que palavras dizer. Subo escadas e desço-as; volto a subi-las e outra vez a descer procurando acalmar a inquietação que me revolve as entranhas. Esqueço-me de que estou vivo sonhando ser um fantasma na mansão dos Canterville onde choro a minha rejeição. Pinto-me de vermelho para lembrar que tenho sangue uma vez que nem água nem fel escorrem de mim; refugio-me nos lençóis da minha masmorra esperando que de mim ninguém se lembre.
É manhã. O meu corpo transpira já o meu destino e a minha boca anseia por um pouco de água. Eu poderia abrir o chuveiro e aproveitar a minha nudez banhada de sol para me refrescar. De nada vale; as correntes que pesadamente arrastam o meu destino forçam-me a fazer o mesmo de sempre na minha mansão. A minha alma deseja rejeitar este lugar e fugir para um jardim…
Sentado espero a meia-noite. O cu dói-me de tanto tempo passar nesta posição e a minha garganta sufoca a aspereza do quente ar. Pego nos meus olhos e limpo-lhes a pupila; talvez consiga deste modo ver uma saída onde ainda tenho andado cego… todos os momentos me fogem das mãos e eu carrego tristemente o meu destino
Se ao menos o sol me despertasse no horizonte…

Horas mortas (04-Set-06)

Ofusca-se o meu mundo pela recusa
De uma esperança em ouvido sentir
Parando num ultimo desejo de fugir
Fora essa aspiração realidade – uma fuga…

Longe os meus sonhos acontecem
Cheios de penosas esperas – amordaçado
Frio, com o espírito revoltado –
Amigos e datas distam mas não esquecem.

Pena-se por se ousar nascer
Num berço de campo quase cidade
Mas esquece-se a vida e a saudade
Em prol do sonho em querer

Gritam-se palavras, ocas me soam
Chegando-me incompletas, distorcidas
E outras ideias que estavam adormecidas
Preenchem as horas mortas que não voam.

Espero como o voo de libelinha
Um patético pairar com essas pás
Imitando asas, sem saber como se faz
Essa coisa de voar – triste sina a minha.

Sei, procuro ser dramático
Sem ter vida q o justifica
Com uma alma que tudo complica,
Sou ser que sem problemas é problemático.

Sem que há minha volta percebam
Sem ter família com ouvidos
Sem largar os meus sonhos perdidos
Procuro voo sem que pesadelos apareçam.

Sonhei ser um astro de mim
Sempre sendo um quase
Alma patética na qual se nasce
Nasce-se e pronto, é-se assim…

Quase deus, quase sol, quase mar
Que mais espero eu da vida
Senão a força de viver cada dia
Passando o tempo a sonhar.

Tuesday, September 19, 2006

02-Set-06

Pensamento do dia: Sou astro de mim mesmo

01-Set-06

A insónia assombra esta minha noite. Olho em redor e procuro nas sombras algo que me repouse. Nada. Acendo a luz. Levanto-me. Com pouca roupa vou à casa de banho e dispo-me completamente. Olho-me ao espelho. Não tenho qualquer emoção. Atiro com três rosas vermelhas para o lixo; alguém, me amava. Olho a minha cara no espelho. Amanhã sei que terei umas terríveis olheiras da minha incapacidade de repousar. Volto ao meu quarto e deito-me. Nu. Sinto sobre a pele aquela estranha sensação de nos sentirmos sem roupa, de estarmos desprotegidos mesmo no verão. Volto a levantar-me e vou até à casa de banho buscar a roupa interior que lá deixei. Desta vez não me sinto inexpressivo; o meu sexo estremece como que a buscar a minha mão para o acariciar. Pelo na minha roupa e num ápice meto-me no quarto. Apesar de a minha casa estar vazia sinto que alguém vai aparecer e apanhar-me assim, nu. Deito-me de novo na cama e respiro calmamente. O meu corpo pede um pouco de prazer ao que eu tento reprimir.
No alto de uma coluna Apolo chora. Tem nas mãos uma lira quebrada que a atira ao chão. Desce do pedestal e aponta-me o deserto num eterno crepúsculo. Ao longe uma nuvem aproxima-se. Dois cavalos. Ambos machos vigorosos castanhos de cor. Ambos subimos para a sua garupa e cavalgamos uma imensidade. A meia-luz mantém-se ao chegarmos junto a um rochedo. Ao aproximar apercebo-me que passara o caminho todo a chorar. Pousa a sua mão em cima da minha perna ao que reajo de imediato. A beleza abandonou o mundo e ele recusa-se a morrer. O seu carro não brilha mais no céu, mantendo-se essa luz difusa.
Desmonto do cavalo e ajudo-o a descer. A minha mão pousa na sua nádega e os meus olhos no seu sexo entesado. Os dois unimo-nos como se nada mais houvesse que a esperança de sermos os últimos.
Dois templos erguem-se majestosamente a uma pequena distância um do outro. São rivais. No interior de um alteiam-se ogivas com esplendorosos vitrais; grossas colunas suportam o pesado tecto bem alto. No outro templo linhas direitas, clássicas unem-se em harmonia com o eclodir da cultura; colunatas branqueiam a vista com as sedas orientais. No meio deles uma multidão bem grande. Parecem formigas, deslocando-se como um viscoso fluído entre mim e o Apolo. Os nossos olhos cruzam-se; o seu choro procura apaziguar a minha ira. As pessoas da multidão carregam machados e forquilhas, cadáveres em chamas, tudo armas que contra nós arremetem. Os nossos altares ardem, os vitrais estilhaçam-se, os véus rasgam-se em farrapos, os telhados vêem abaixo e toda a nossa majestade é motivo de chacota. Apolo tenta vir-me socorrer enquanto as pilhas de gente se aglomeram a destruir tudo à sua volta que lhes lembre de nós.
Uma cama de casal no meio de uma fábrica abandonada. Ele espera-me em cima dos lençóis de cetim. Os cavalos ao longe mastigam areia à sombra do rochedo que se assemelha a uma esponja. Ele chama-me e sigo a voz. Agarra-me nos pulsos atirando-os para cima da cama. O meu corpo imobiliza-se, deixa-se ficar aos seus caprichos. Ele lambe o meu sexo sem qualquer avidez. Reparo no céu que agora está negro. Do exterior da fábrica sinto o calor de chamas; uma urgência, estamos em perigo.
As portas são abertas por homens que não são ainda homens mas que o seu olhar, nessa face de criança lembra que muito cedo foram obrigados a crescer. Olham-nos estarrecidos. Meios cheios de raiva, meio desilusão avançam para nós.
A urgência provoca-me; a minha esporra esguicha para o meu peito ao mesmo tempo que Apolo se vem para cima de mim.
As crianças fecham agora os olhos. Já não são crianças mas antes velhos que apodrecem na fábrica abandonada. Deixam cair as suas foices e bengalas. No tecto abre-se uma janela de onde vem uma mão que me leva. Os velhos voltam ao trabalho que faziam nessa fábrica enquanto outros mais jovens aparecem para lhes dar ordens e espetar bastões nos cus em caso de desordem. Deixo de sentir o belo…
Acordo abalado. A imagem de Apolo ainda me povoa o cérebro. Sinto que algo de belo se perdeu esta noite, algo de belo morreu…

Passagem das Horas (01-Set-06)

Recorda-me sempre de mim
Sempre que me olhares
E nos sentidos despertos recordares
Os beijos vindos de mim

Procura achar as tuas asas
Quando chegar o momento
De desespero ao pensamento
Chegar e te partir as asas

Olha bem o estranho quadro
O meu rosto nele estampado
Com algas no couro cabelado
E manchas pretas em todo o quadro

Relê todas as minhas cartas
Escritas com sangue de sereia
Letras fugazes, palavras de areia
Que enchem folhas nessas cartas

Ouve a nossa música
Todos os acordes desse bater
Os corações a pulsar, paixões a ferver
Cheios de cor e música

Mastiga as nossas roupas
Que se fizeram asco, fel
E recorda as belas noites de mel
Em peles nuas, sem roupas

Vejo que nada te fugiu
Que buscas na vida a beleza
Mas nas mãos uma certeza
Um coração que não te fugiu

Levei para te achar anos
Brinquei com fogos amorosos
Comi gajos deliciosos
E passaram-se anos

A estação da nossa vida
É feita de comboios que vão e vêm
Feita de coisas que nada têm
Feita de fumo vazia de vida

Fizemos alegres festas
Cheias de gente conhecida
Depois vinha aquela hora perdida
Em que a tua mão me fazia festas

Soube que era sonhar impossível
Com coisa tão áspera e dolorosa
Com essa vida escondida mentirosa
Com um amor de todo impossível

Monday, September 18, 2006

01-Set-06

Mira-se o fim com um copo de aspirina na mão, uma dúzia de varizes e uma constipação para ajudar. Há três dias que não ouço o som da tua voz e isso deixa-me enfermo. Não como, não durmo, trabalho até a cabeça estourar, fico noites inteiras numa constante insónia, adormeço ao som de panfletos cartazes e anúncios, perco peso.
Os McDonalds’ e as Coca Colas revolvem o meu estômago, reparo em recortes de jornal mostrando tatuagens, acidentes de viação, pessoas assassinadas e recordo a minha morte envolvida em paninhos de alquimia. Rasgo uma revista de moda porque nem Versace nem Dior, Cavalli, Chanel ou Hugo Boss me caem bem, destoando no meu tom de pele.
……………………………………………………
Há três dias que não te vejo e sinto que essa onda a embater contra mim me atira para o infinito como em The Perfect Storm. Penso que não mais me queres ver e por isso a necessidade urgente em fugir. Fugir de ti, fugir de mim, dos outros, desta coisa a que chamamos vida, mas em mim a vida escoa-se a tons quase invisíveis como o cair da areia no relógio de Alexandre.
……………………………………………………
O tempo da espera mata-me enquanto a esporra das entranhas me extasia numa fantasma sensação de prazer. Procuro esse prazer que me davas e que vejo agora tão distante. Entro numa disco para dançar um pouco. Procuro divertir-me, quem sabe conhecer pessoal, mas a minha impaciência em breve toma conta de mim e sem conseguir controlo atiro o dinheiro à empregada e saio.
……………………………………………………
Entro no parque. Noite alta. Alguns carros parados fazem vigia nocturna às pessoas que passam. Procuro mijar o que trago na bexiga e um gajo olha-me constantemente. Não é bonito, mas isso não me incomoda, nada quero com ele. Dou corda aos sapatos e noto que me segue constantemente. Perco a noção das horas e do sítio onde estou. Sinto-me como um louco.
……………………………………………………
Volto à discoteca
Volto a sair
Desço a rua
Sento-me num banco
Farto-me de esperar
Vou para casa
Tiro a roupa e enfio-me na cama
Não durmo. Bato uma punheta
Venho-me e ainda estou sem vontade de dormir
Acordo às seis da manhã
Emborco o pequeno-almoço num trago
Faço as malas a correr
Corro para o autocarro
Vou a 100km/h para o meu destino
Apanho um táxi
Entro em tua casa
Apanho-te com outro
Saio a correr para lado nenhum
Recuso as tuas chamadas insistentes
Entro num bar
Engulo uma vodka
Bebo outra
Apanho uma bebedeira
Levam-me à tua cama
Durmo…
………………………………………………

29-08-06

Pensamento do dia: No lugar de florestas vejo desertos... prédios...

28-08-06

Estou no bar do costume à espera dele. Nada é que habituado não esteja. Sento-me, olho as horas e penso no tempo que posso dedicar à sua espera. Os minutos passam e isso parece não acontecer. Passa um pouco o tempo e viro mais uma folha do livro que leio, nesse capítulo que está prestes a acabar. Ele não vem. Uma espera interminável, um desespero constante. À leitura retoma o meu pensamento. Esqueço o motivo pelo qual ali estou à espera. A certo momento sinto que não estou a fazer mais nada ali. As minhas engrenagens de miosina deslizam para que possa ir pagar e sair.
Dou uma passagem pelos lavabos. Ele também ali está. Parece-me que entrou agora. Quando vou aos lavatórios ele também lá está.
- Onde tens estado?
- Por aí…
- Não tínhamos combinado qualquer coisa?
- Talvez… Perdi a noção das horas.
Ele olha-se intensivamente e de forma muito comprometedora. A nossa fixação um pelo outro é tamanha que ao entrar alguém na casa de banho a nossa concentração é perturbada e agimos de forma fria, voltando o nosso pensamento para o lavar das mãos.
- Fartei-me de te esperar.
Saio da casa de banho ao mesmo tempo que ele. No entanto, assim que atravesso o vão da porta perco-lhe o rasto.
Horas depois ele vem ter comigo a pedir-me para tomarmos banho juntos. Eu acedo. Enquanto encho a banheira de água e espuma apercebo-me que “se eu me afogar nesta água, ele afoga-se também”.

Wednesday, September 13, 2006

27-agos-06

Às vezes penso que escrevo sempre o mesmo. Arrumo meia dúzia de palavras e misturo-as de modo diferente. Penso mil coisas e o que passo não passa do mesmo; não se pode ser perfeito.
Pensamento do dia: não existem santos.

Um Caminho Tortuoso (27-agos-06)

Um caminho tortuoso
Uma fúria incontestada
Uma bruma não clareada
Um dia invariavelmente chuvoso

As janelas de uma casa
As vértebras de um pescoço
As ondas no fundo de um poço
As penas em ave de uma asa

Sob sussurros em florestas
Sob os cantos de opereta
Sob a lealdade dos estafetas
Sob a alegria em todas as festas

O que sou…
O que queria…
O que me rodeia…

Valete de Copas (26-Agos-06)

Corpo escultural
Olhos marotos
Assim te vejo eu com desejo
Sempre que aqui venho

Olho com dor para o teu traseiro
Enquanto secamente perguntas:
“Vais tomar alguma coisa?”

Restos de Mim ()

Toda uma vida espera desespera
De encontro ao puro desejo
Encontro-me
Desencontro-me
Ao longo de mais de duas décadas
Procurei:
Haverá razão para existir
Haverá razão para morrer…
Não encontro na vida uma solução
Uma essência
A morte persegue-me.
Contra a morte violentamente me arrebato
Tento das trevas me libertar.
Sonho…
Dias melhores hão-de vir;
Hão-de preencher-me o vazio que me cerca
Eu…
Tu…
Amamo-nos
Sonho ter-te e nunca nos encontramos…
Imperturbavelmente
Mantemo-nos no nosso lugar;
Tu enrolas-te em desejo
Eu espero-te em segredo
Ninguém nos vê
Ninguém nos ouve
Podemos ser o que quisermos.
Mato-te,
Tu a mim,
Não existimos…
Tu és uma ilusão de mim
Enquanto tu me sonhas
Agarro-te o pulso ante a nossa fusão irreal
Suamos a nossa fantasia
Em estilhaços cujos cacos apanho como restos de mim.

Um sopro
Uma aurora
Um olhar

Acordo com a sensação de me ter visto a um espelho deformado
Sentir-me um narciso.
Mas apenas restava o trágico destino da minha existência...

Tuesday, September 12, 2006

25-agos-06

Preguiça em escrever, farto de ler, penetro cada vez mais fundo nesta minha clausura. Procuro algo que, nesta minha profunda solidão, não encontro e que fugazmente vislumbro em pequenos momentos ao telefone.
O som do mar ecoa-me no espírito e a brisa da praia investe como um fulgor que tenho em me livrar destas paredes. Em clausura, como ma soror leio livros medievais, livros com histórias de padres, amores e irmãs. Invisto na modernidade vasculhando no movimento dos meus dedos a forma de conquistar o mundo em frente a um ecrã. A sobejar a isto tudo, como uma violenta onda procuro encontrar a BELEZA. Procuro um cânone, uma diva, um modelo grego. Procuro palpar o que de bonito possa haver na tragicidade de uma vida amaldiçoada pelo destino. Pateticamente invento um ensaio sobre essa mesma beleza e nada mais acontece, tudo gira em turbilhão sem que saia do mesmo sítio.
Uma escultura, por muito bonito que seja um bloco de pedra, tem sempre algo mais. Não digo que seja a cabeça do autor, porque isso é impossível de recriar, transmitir, de reproduzir… a maior frustração de um autor é isso, é o escrever, é o esculpir, é o desenhar, o pintar, o filmar ou criar seja o que quer que seja sem que consiga transmitir nitidamente “o que deveras sente”.
De forma alguma procuro ver como o autor via a sua obra, ler um romance como o leria o seu romancista, não me interessa em distrinçar um canto da Ilíada. Procuro apreciar o que nisso é belo, tirar do que aprecio um fugaz momento em que detenho os meus sentidos. Ver que isto é bonito e senti-lo no meu corpo, transpirá-lo por todos os poros. Uma experiência de uma impressão pessoal. Impressão quer ela seja trágica ou estética, cómica ou puramente conceptual. A beleza tem de atingir-me.
Acordo no inicio da noie com o corpo a doer-me. Os olhos a lantejar. Não consigo respirar. Temo escoar-se de mim a vida. A minha cabeça trabalha a mil à hora. Parece que mais cedo enlouqueceria que o ténue fio que me prende a este mundo seja cortado.
Completamente alucinado desço tremulamente as escadas para ir buscar algum remédio para esta enfermidade. Povoam o meu espírito alguns espectros do meu passado que teimam em deixar-me. Encontro, enfim, algo que de forma fulminante me deixe sacrificialmente dormir. Acordo já manhã alta como um pátio limpo após uma chuvada. Vou pensado “até quando? Até quando estas insónias continuarão a atormentar-me?” descubro-me insano e completamente néscio. As trevas que se acenderam em mim escoaram-se e a droga começa a fazer efeito. Posso dormir descansado.

MAIS!!!!!!!! (22-Agos-06)

Rasguei os teus elos para que te fodesses, oh amor!!!
Sempre com essas correntes
Batendo sobre a tua carne já dilacerada por lâminas
Sempre essas cicatrizes
Lambo-te as feridas fazendo-te a pele arder
Sempre, sempre te vejo puta

Olho, olho, procurando perceber
Se este olhar que te lanço
Te fere ainda mais na carne
Se essas lágrimas são de prazer

Arrancas o meu braço à preguiça que não deixo de sentir
Estando a tentar resistir
Não sem se te prenda, se te esfole, que possa eu fazer
Estando a ti acorrentado
Com o chicote na mão recusas minhas carícias ternas
Estando em mim o querer-te violar

Recuso-me a ser para ti violento
Mas abandono-me à tua fatalidade
Morte certa, luto posterior, nada mais
Deixar em mim um descontentamento

Fico sem entender como te dá prazer a minha brutez
Mas néscio deixo-me levar
Não sei se é bem ou é mal eu ver-te assim chorar
Mas com olhos de alegria
Insurges do teu véu que rasgo de cima a baixo
Mas ainda pedes mais!!!

Imagem (22-Ago-06)

Arriam-se bandeiras, espalha-se a peste
Nada há neste mundo, nada que preste

Escreves-me longe sob o jugo de trovões
Cercado de morte, ruindo leões

Entre tiros e mísseis, muita sujidade
Ouço clara essa voz, pedes humanidade

Mãos de homens te cercam, mãos te estendem
Ninguém ajuda dá, todos ajuda pedem

Sem mais loucuras, inalo uma perfeição
Uma onda forte como dor, subtil como inquietação

Mundo imaginário, mundo real
Não sei se és paraíso, se és puro mal.

A vida em mim é um peso comprimido (19-Ago-06)

A vida em mim é um peso comprimido
Vida é tons de violeta e negro
Acontecendo o que tem de acontecer
Sendo livre quando assim der
Com ou sem asas
Voar para sempre ou obscurecer

Minha vida é um bote sem rumo
Uma paisagem despida de rochas e flores
Uma aurora por em nascimento precoce
Um abrir de olhos eterno em insónias
Um sentir que tudo em mim é pequeno e não cresce.

Penetrar-te como um desejo (18-Ago-06)

Nada mais tenho a dizer
Perante esse olhar que
“Adeus até um dia”

Um forte impulso atravessa-me
Como desejaria assaltar-te a roupa
Rasgar a tua pele macia
Limpar a carne que te consome
Achar o teu cerne

Apenas quero penetrar-te
Apenas arrancar as tuas máscaras
Fundir os teus muros

Soltar o meu, o teu, o nosso
Quem sabe um dia futuro desejo

Hoje tudo me sabe a fel (18-Ago-06)

Hoje tudo me sabe a fel
Amargo como o mundo ando sem o conseguir deixar de ser
Pelo meu corpo escorrem lágrimas amargas
Desfaleço ao som dolente de Ave-Marias chutadas por beatas
Cadenciam-me as engrenagens enferrujadas baixos de uma sinfonia
Ouço até à exaustão todos os acordes que me chegam
Até que a minha triste alma seja apaziguada.
Anjos a todos violo num cemitério apodrecido
Lírios meto na água esperando darem
… jovens marcham…
E eu devoro,
Rasgo,
Como,
Vísceras a desfazerem-se!!!
Plástico apodrecendo!!!
Desdém solene.