Friday, November 12, 2010

Obscuro amor - Um quadro com um anjo


O anjo sangra pendurado junto ao relógio da catedral. A noite se avizinha. É a noite de Natal mas ninguém adora o anjo que abandona a luz e se precipita no abismo da mortalidade. O ex-divino ser geme pelo seu corpo ensanguentado e mal tapado por um farrapo. As correntes, presas a dois arcobotantes enrolam o lamento do anjo que cai como a escuridão. Trinam as lamúriase suam as lágrimas dos seus olhos. Os meus olhos presenciam o seu olhar de inocente mergulhado no mundo onde há muito não habita.
Os meus olhos, e apenas os meus presenciam tudo isto sentado como um bandido com os braços tatuados pelos meus pecados escrito no mais satânico dialecto. Nas costas se esboçam caracteres hebraicos de um cabalístico texto e do meu coração jorra sangue para o meu ventre cheio de furor sexual puro sem sentimento. É a marca da ferida eterna da minha mortalidade. Quem presenciou o meu crime foras as estáticas e assustadas gárgulas que pretendiam gritar sob o seu pétreo olhar esbugalhado com os seus corpos a querer sair da pedra e as bocas procuram gritar o assassínio - ou suicídio - e o ritual sanguíneo escrito no mais puro latim em hemácias de um amor não presente, mas quem sabe, talvez, futuro.

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