Saturday, November 20, 2010

Balada a um Marinheiro


A ti que nunca me viste senão por detrás de umas grades cheias do musgo do tempo e que me visitas pelas noites de insónias a convidar-me para uma partilha de emoções que nunca soube escutar,

A ti que diante dos templos de pedra onde vou em peregrinação e que aguardo pela vinda de um anjo sagrado pelas asas da noite a mostrar-me o meu verdadeiro corpo que não consigo ver senão através do seu beijo tão misto de sensações,

Chamo por não conseguir mais saber que dizer diante das imagens de espectros que me cercam dia e noite a aguardar que a minha vida seja deitada para baixo com todos os seus aromas de jasmim.

Um triste marinheiro compõe a sua boina junto do cais e eu o observo, sinto a minha vida a sofrer o grande revés com os sentimentos em luta por um momento a se revelar no mais íntimo de mim mesmo e que eu tento anular.

Ao aproximares-te de mim a tua mão de anjo pousa no meu coração como uma farpa tremente que remói tudo o que encontra à sua passagem e camufla as minhas entranhas numa pasta de morte.

A faca com que me dilaceras é mais que dor, é mais que paixão, é um sentido sem sentido que ignoramos e largamos no chão. A tua faca é mais que um ardor e que um desejo, mais que tudo

A tua faca é um instrumento de assassino que caminha sem saber por onde e pousa a sua mão numa coisa que acha dele. A tua faca é uma faca ardente por ardente vida a consumir e que guardará para si.

O marinheiro-anjo aproxima-se das minhas sombras para lhe dar um pouco de sal que trás do mar. A camisa que trás sabe a algas e o aroma que se liberta da pele tem o cheiro de marisco e ostras mais finas,

Os seus cabelos, como caracóis alourados, trazem as lembranças do passado que vivemos lá bem para trás e das voltas que demos nos imensos parques cheios de mato e ervas para rebolarmos.

A sua camisa vem engomada pela mulher que lhe trata da roupa e que outros serviços te presta. Foi ela que me apresentou a ti e disse que era para de ti tratar bem, mas bem se esqueceu de te dizer para me tratares bem.

Desde o momento que te conheci as minhas unhas cresceram e os meus olhos incharam, as minhas veias e artérias se insuflaram com todo o sangue que posso arcar no meu corpo e tudo o mais que consigo produzir.

Desde que te conheci que o meu corpo está a ponto de explodir com os músculos a incharem de modo perturbante e os meus olhos vêm apenas fúria na sua frente e tremem a cada passo e gritam pela presença de Beatriz.

Essoutro teve mais sorte que eu por ela o encaminhar para fora do inferno nas mãos de um poeta, eu não o posso fazer sequer nas mãos de um proxeneta porque me isolei na minha transformação num casulo feito de teias de aranha.

Caminho como um condenado que anseia por mais amor e lho recusaste por teres de ir para longe. Sempre para mais longe... Parece que não há ilhas mais distantes que as ilhas do mais puro amor e é para essas que eu quero seguir viagem contigo!

Parece que como a outra mulher terei de exigir a tua presença nem que seja morto numa bandeja para libertar-me do meu pecado com a minha morte mais verdadeira senão morro de desejo.

Parece que tenho de seguir nalgum porão como um rato ou uma barata de Kafka para te ter mais perto porque as cartas que mando não chegam ao destino e eu sofro por uma resposta.

Parece que mais nada tenho que me impor diante de ti sem roupas e forçar o teu pénis a levantar-se do Hades para se lembrar da voz de lira que sopra do meu corpo e não mais se quer calar nem indo ao inferno te buscar.


Parece que me esqueceste como tudo o que fazes e apenas ao encostares a este cais vens ter comigo para que te diga que estou aqui e podes sempre contar com o meu amor eterno.

Parece que vou sempre morrer eternamente por amor como uma tortura de Prometeu sem que nenhum Hércules me venha libertar por pena dos próprios deuses pois eu a nenhum humano ensinei o fogo mas o descobri dentro de alguns.

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