Sunday, November 14, 2010

Obscuro amor - Um quadro com um anjo 2


O relógio deu a meia-noite. Ouve-se o cantar de monges. Pode-se sentir o olor do incenso que ditam as palavras sagradas de oferta ao Deus-Menino. O Deus-Menino que não se quis deus-homem, mas homem completo ou talvez um homem-deus que tinha uma semente divina. Ao elevar-se a hóstia ouve-se um grito. Uma voz troante pede clemência. Logo se deixa de ouvir. O que se ouve é o silêncio da morte, prévio ao choro. Todos se entre-olham sem perceber o grito. O grito do anjo.
Em estranho dialecto, entre a língua divina e a língua humana um grito se ouve no ar enquanto na missa o padre procura retomar a calma para que o ofício sagrado continue.
A vela sempre acesa apaga-se. O livro começa a sangrar. No cálice uma boca chama por alguém e sons profundos e infernais ecoam por toda a catedral. Todos se assustam. O padre não sabe como continuar. Ele pede para todos rezarem mais fervorosamente. As vozes confundem-se. Alguém diz no ar que tem frio. Alguém diz que tem fome. Alguém diz que ama alguém. Outra voz diz que quer viver. Outra pessoa grita como uma criança louca. Ninguém sabe onde encontrar a sua calma. As paredes da catedral encerram as portas para que ninguém saia e na rua a chuva cai sem parar acompanhada da melodia das varas de Zeus zangado.
Ele se precipita do céu eterno para a nossa mortalidade.

1 comment:

fatima said...

AO LER ESTE TEXTO ,QUERIDO DANYEL FIZESTE-ME Sentir..perto dos Deuses ,perto da DEUSA ,PERTO DE TUDO o que realemnte tem vida,perto de tudo o que e Verdade ,perto de MIM, e belo o teu texto e quisera que os ditos religiosos percebessem tao bem como tu quem E Deus Menino ,ou melhor Deus Homem-Mulher com essencia DIVINA QUE ES TU.