Friday, November 26, 2010

Manifesto contra o estado de tristeza geral (um excerto)

A propósito da greve geral de 24 de Novembro recolhi um manifesto do pessoal da cultura (atenção, não chamo pessoal num mau sentido mas de forma próxima) junto ao Teatro D. Maria II que estavam a distribuir uns folhetos referentes à sua insatisfação pelos cortes orçamentais elevados que a cultura tem sofrido. Ao contrário do que muitas vezes me acontece, deste vez peguei no folheto e li. O início agradou-me e aqui o deixo para vocês.

"Imagine-se um dia sem arte nem cultura. Imagine-se que durante um dia inteiro o país fica sem teatro, sem cinema, sem livros, sem música, sem rádio, sem concertos, sem exposições, sem televisão. Imagine-se um dia um país emudecido para não gastar palavras, parado para não gastar ideias e emoções. Que género de vida defendem os que acham que a cultura é «desnecessária»?

[...]

Apertam-nos o pescoço. Tiram-nos o ar. Falam-nos de austeridade, de contenção, apelam ao nosso sentido de sacrifício, ao culto da Tristeza Geral. Insistem na ideia de que «é preciso sofrer para atingir uma recompensa futura», mesmo quando não se saiba que recompensa é essa e para quando."

O texto apresenta mais outras informações, como o corte em 25%, estou a falar de um quarto, dos subsídios. Este blog é pouco dado a questões políticas, mas ao mesmo tempo nele algo pega na cultura. Além disso sou uma pessoa que gosta de assistir a espectáculos, filmes, ouvir música. O facto de muita gente não poder exercer esta actividade condiciona em muito o que se pode vir a fazer. Desta forma não será de estranhar que ao irmos ver um espectáculo daqui a pouco tenhamos de pagar um valor exorbitante.
De qualquer maneira lembremo-nos que mesmo assim a cultura irá sobreviver porque sempre foi feita de rebeldes que lutam contra os que a querem sufocar. Não é de hoje, já vem de há vários séculos. Muitas foram as perseguições feitas a pessoas que escreviam, representavam, cantavam, lembremo-nos que inclusive tivemos uma música que foi o mote de uma revolução...
Lembremo-nos que estamos em situação grave a nível económico. Que as coisas estão a ser mais difíceis, mas, uma palavra de esperança, não é por isso que vamos parar de escrever, de publicar, de falar em público ou de cantar. Talvez tenhamos de repensar como o fazemos. Assim como os governantes têm de pensar o como lidar com a cultura. É a isso que apelo, uma reflexão e diálogo de parte a parte.
Sei ser difícil para os actores pararem a sua carreira, a sua arte, o seu trabalho. Não é isso que eu coloco em questão, mas o pensar em como o fazer. Faço deste meu manifesto um manifesto contra a Tristeza Geral no sentido de todos lutarmos, sejam ou não actores ou pessoal ligado à cultura, contra uma tristeza. Lutemos contra a nossa cada vez maior depressão e olhemos para o céu que pode estar mais encoberto por cinzentas nuvens e pensemos: "Eu estou para além destas nuvens, acima de toda a chuva, eu não me molho, EU POSSO, EU QUERO."

It's a GayChoice de hoje.

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