Wednesday, November 17, 2010

Obscuro amor - Um quadro com um anjo 3


Antes da luz houve o caos. Depois da luz há a escuridão. Um corpo se contorce na escuridão da noite. Apercebo-me que nunca possuirei aquele anjo seja de dia, seja de noite. Nunca será meu. As esperanças fundadas num sonho não são mais que esparsa bruma. Diante de mim um corpo divino se torna carne humana e espera ser devorado pelos homens. O seu olhar para mim petrifica-me a razão e deixo de poder raciocinar como que possuído por algo semelhante a uma paixão e ao mesmo tempo vil sedução ao pecado. mais não sou que seu escravo. Diante de mim aquele corpo grita fortemente e expira-se da essência do seu deus. Foge ele dos altos para o mundo cruel como eu. Fica mortificado por uns tempos antes de o sei olhar ir de encontro ao meu e me ordenar "Liberta-me!" Obedeço. Ele agarra-se ao meu corpo com um desejo carnal mas eu exclamo: "Eu não te amo!" A sua esquerda mão levanta-se e ameaça apertar-me o pescoço. Solta-me e ele diz de forma maldosamente calma: "Como tu nada vales! O teu pecado é esquecido por Deus e lembrado pelo demónio que sou eu." Diante de mim aquele corpo afastar-se-á para o mundo e para os antros de paixão. Não o conseguirei acompanhar e sinto o remorso de ter-me em dado momento apaixonado por aquele deus de beleza e ao mesmo tempo cheio de uma imortal maldade com a sua queda. Sinto que também eu caí de certo modo. Que eu, como assassino de um anjo, como o causador do seu grito de afastamento ao seu deus, sou também pecador por cometer um crime de paixão mais forte que qualquer lei divina.

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