Monday, May 21, 2007

Vaidade

Sonho que sou a Poetisa eleita,
aquela que diz tudo e tudo sabe
que tem a inspiração pura e perfeita,
que reune num verso a inensidade!

Sonho que o verso meu tem claridade
Para encher o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto vou voando,
Acordo do meu sonho... e não sou nada!...

Florbela Espanca

2º ciclo de cinema lgbt em coimbra (dia 5, o último)

ora bem... antes de mais como é normal acontecer neste ciclo, a sessão começou atrasada, em parte devido ao facto de a pessoa responsável ter vindo alguns minutos antes (meia hora). Conhecendo já do ciclo anterior que decorrera em Novenbro, a verdade é que não digo que tenha sido culpa dele, uma vez que sei que se ele soubesse que iríamos passar um filme em formato divx teria vindo às 20 h em vez de vir às 21.
O pessoal teve de ficar um pouco de tempo à espera. Este que fora o último dia foi também do que teve mais gente. Foi exibido o filme "Get Real". Não me consigo esquecer do título em brasileiro: saíndo do armário lol.
Infelizmente o filme não tinha legendas por problemas técnicos, o que é sempre uma chatice pois uma das pessoas, pelo menos, não sabe inglês e, se calhar algumas das outras não estariam habituadas... as minhas desculpas.
de
qualquer forma foi um dos filmes que pensei em exibir no ciclo anterior e que passou neste, retrata a história de um gay que começa a sua vida como homossexual num meio onde há uma constante repressão, muitas das vezes não verbal ou física, mas de ausência de pessoas com quem se possa falar. a verdade é que o filme provocou algumas sensações em algum pessoal que no fim do filme ficaram para comentar. uma delas referiu-se ao facto de que ficou com uma clara ideia do que é ser-se gay e de ter pessoas que as ameaçam. para outras pessoas provocou a necessidade de pensar em leis que tornem muito mais igual este "tipo de pessoas diferentes". a verdade é que existe em portugal leis que têm posições homofóbicas (como a lei que regula as fecundações in vitro) e que é preciso retrabalhar.


em jeito de conclusão a este ciclo digo apenas uma frase: foi apenas algo feito como costuma a ser feito em coimbra, ou seja, algo feito em cima do joelho pela boa vontade de algumas pessoas enquanto que as que eram suposto estarem mais envolvidas no evento não o fazem...

2º ciclo de cinema lgbt em coimbra (dia 4)

Ora bem a epopeia de filmes a serem exibidos neste que é o segundo ciclo de cinema LGBT em coimbra é um evento que merece toda a atenção. No segundo dia em que o filme exibido foi substituído por um outro com legendas em português foi no mínino cosntrangedor.
de entre três filmes que havia para escolha, esta recai sobre rent (escolha essa que fora em grande parte feita por mim). um filme que me arrependo sinceramente de que tenha passado... mas pronto, de águas passadas. este filme é baseado num musical que fora baseado na ópera "La vie Bohémme" (tanto baseado). pouco tempo depois do filme ter começado notei logo que a escolha fora um tanto ou quanto infeliz e que o raio dos gajos não se calavam com as músicas que metiam bateria e guitarras a torto e a direito. Maldigo, não só o realizador, mas também o criador das músicas que me fizeram passar 2.5 horas a aturar cenas cada uma pior que a outra. Dos poucos momento que vale a pena ficar é a cena do tango, a morte do Angele e o seu funeral... mas poupem-me, lembrar-me daquela música dos 525 600 minutos... não há que a ature!
Sendo um musical pouco tempo depois de a sessão ter começado algumas pessoas saem e ficam apenas meia dúzia a ver o resto

2º ciclo de cinema lgbt em coimbra (dia 3)

O filme de hoje foi o "Casa no Fim do Mundo" um filme feito a partir da obra com o mesmo nome que um livro do Cunningham, autor do livro "As Horas". Não me refiro em nada de especial do filme uma vez que a adaptação não fora nada de mais. Aliás acho que foi muito soft em termos de alguns episódios assim como de sentimento.
Por mim o melhor momento do filme foi a relação que os dois protagonistas tinham com a mãe de um deles. No livro isso chega ao ponto de um deles querer fazer sexo com ela.
De resto há que referir que o filme que inicialmente estava previsto para este dia era o "Porquoi moi?" de qualquer forma alguém se lembrou de escolher um filme sem legendas em português e isso foi vetado para que fosse substituído. Na exibição do "Casa no Fim do Mundo" tem-se a particularidade de as pessoas da secção de estudos cinematográficos não estarem a horas decentes para preparar a sala para a sessão de cinema e as coisas são sempre à última da hora. Uma das situações que se verificou foi que o filme foi esticado para os lados ou para cima e tinham-se pessoas muito magras ou ligeiramente mais gordas do que ja são.

2º ciclo de cinema lgbt em coimbra (dia 3)

Thursday, May 17, 2007

17 de maio

só para lembrar que hoje é o dia (não oficial) da luta contra a homofobia. não pretendo mais nada que lembrar que todos os dias somos confrontados com isso...

Wednesday, May 16, 2007

2º ciclo de cinema lgbt em coimbra (dia 2)

como houvera dito, as complicações neste ciclo de cinema não haveriam de acabar. em primeiro, eram nove horas, meia hora antes do começo da sessão e era suposto haver pessoal do centro de estudos cinematográficos na respectiva sala para que se pusesse o filme a correr e se fizessem todos os testes. como bom português que se preze, chegar a horas ou uns minutos depois é coisa que convenha e o ciclo, como sempre em coimbra, começou com a hora um pouco mais adiantada.
em segundo, os testes antes de a sessão começar têm uma vantagem, evita-se que o filme tenha de começar três vezes por causa de questões de som.
depois de todos estes precalços, começa então a história do filme que tem o nome de "Boys Don't Cry", película baseada numa história verídica acerca de Teena Brandon, uma rapariga que já há muito que se sentia um rapaz. esse papel coube a Hilary Swank (a actriz que protagonizou o "One Million Dollar Baby") e que neste seu papel de 1999 mostra as suas boas qualidades como actriz.
a história é, algo pesada e pejada de vários elementos que provocas as pessoas, quer seja pelo facto de existirem várias cenas sexuais que são trabalhadas de forma particularmente interessante, quer pelas várias cenas algo violentas. aliás a "família" de Lana era algo de muito peculiar e o final era o esperado, e que só poderia ser dessa forma.

Tuesday, May 15, 2007

2º ciclo de cinema lgbt em coimbra (dia 1)

- porque é que escreves?
- por vingança.

evento em coimbra que se preze tem de ter sempre duas coisas a acontecer: chatices porque há alguma coisa em falta mas lá há alguém que viola uma regra ou que por boa vontade a arranja e começar com uns minutos de atraso.
foi assim que começou um evento que, apesar de pouco divulgado, mostrou ter público. a afluência não fora tão grande como no evento anterior, de qualquer maneira, várias foram as pessoas que se deslocaram ao pequeno auditório da aac para assistirem ao filme "antes que anoiteça" do snabell. este filme tem a pecularidade de retratar a história de Reinaldo Arenas, um cubano que tinha três pequenos problemas: era escritor, dissidente e homossexual. um filme baseado na obra homónima de um escritor que passa parte do seu tempo a sobreviver primeiro em Cuba e depois em Miami, onde viria a suicidar-se. depois de algumas lágrimas caídas por certas cenas do filme, assim como uma gargalhada devido a uma das personagens interpretadas por Jonny Depp, seguiu-se uma pequena conversa onde se reforçou a ideia de que a se pretende este ano no dia (ainda não oficial) mundial da luta contra a homofobia, de assinalar os países onde é crime ser-se homossexual. é o caso de cuba.
o filme, apesar de longo é daquelas coisas, vale a pena passar os olhos pela coisa... até porque tem boas interpretações (o jonny depp no seu melhor, qual eduardo mãos de tesoura, qual quê!!!!!!) assim como interessantes caracterizações (o raio do Jonny Depp não me sai da cabeça :p) e uma banda sonora interessante.
e pronto, após quatro tentativas de por o filme a correr, de se ter ou não pedido certas autorizações, de se correr o risco de o resto do ciclo ir por água abaixo, lá se fez o primeiro dia, que não será, com certeza o dia mais interessante do ciclo, fica-se por ver o resto.
há lugares onde ninguém deveria ir sozinho
onde as nossas barreiras se quebram e vaga
o espaço numa leve melancolia a arder

uma dor alucinante cheia de impiedade
algo tão silencioso como só um grito sabe ser
e de tanto doer passa e nem notamos afastar-se

como essa dor é tão minha, oh, essa dor
e eu não ser esse tão esbelto apolo que se afigura...
rasgando os céus nesse carro ardente

não quero eu ir para casa
não quero ter mais lágrimas
ou outras dores estampadas
em um rosto doce feito fel
com a mágoa acorrentada
posso jurar nunca ninguém
vi que olhos chorassem tanto
como os meus que tão lavados
secaram, assim é o poeta
que chora por ter de chorar
sonha sem nunca acordar
vindo sempre de um lugar
onde fica a hora é incerta
e o desejo ardente marado
um lugar onde tudo é tão extenso
feito longe, feito mar de incenso

Monday, May 14, 2007

depois de ter saído de casa J. apercebeu-se que as chaves tinham ficado em cima da cómoda. isso era crítico, logo hoje que estava atrasado para o trabalho... teria de arranjar uma solução o mais depressa que pudesse. teria de ligar à empregada que vinha hoje e perguntar-lhe se poderia vir mais cedo. telefonaria também para o seu patrão a avisar do atraso. a empregada não viria e ele não conseguiria chegar ao trabalho. amanhã por esta mesma hora estaria a levantar-se para não fazer nada mais que esperar o tempo passar.
"há cinco anos que me sinto completamente sozinho... há cinco anos que não visito os meus amigos e por eles fora esquecido... há mais tempo ainda... oh... há quanto tempo... não tomo eu um copo com os meus amigos."
a verdade é que ele bem sabia que não valeria a pena ressentir-se com isso, ele seria sempre o mesmo, ele não conseguiria voltar a renascer, por muito que isso fosse bom e prometesse. há muito que se acomodara e não esperava que o ajudassem a ter de novo a vida alegre que tinha nessa altura.
a verdade é que os tempos mudaram e o momento das borgas tinha passado e nada mais restava que fazer o que fosse possível para arranjar dinheiro e sobreviver mais um pouco neste mundo cruel.
a verdade é que os seus amigos se fartaram de o convidar para sair quando ele dizia que não tinha dinheiro para tomar copos ou que não se sentia bem por lhe pagarem sempre as noites de bebedeira pelas quais passava.
a verdade é que era um adulto, assim como todos os seus amigos e tinham famílias a sustentar. ele não, nunca se afeiçoara a ninguém o suficiente para que isso acontecesse e arranjara-se como pudera, sozinho como sempre se sentira.
a verdade é que tinha preguiça em procurar velhos contactos. e já nem a promessa de bom sexo o motivava a sair de casa para um filme ou uma saída, por mais rápida que fosse que o desviasse do seu caminho: trabalho-casa, casa-trabalho. era por essa razão que as reuniões de trabalho eram para ele um motivo de preocupação.

neste dia não valia a pena apressar-se para chegar a horas ao trabalho, pois nunca chegaria a horas... hoje não valia a pena... porque é que tinha feito aquele telefonema ao seu chefe, se sabia perfeitamente que não conseguiria chegar da parte da manhã ao gabinete onde ocupava os seus dias. nesse dia de que lhe valia...
"pensando bem não tenho vivido nada... que tenho eu feito que não seja ir para o trabalho e fazer o que me compete. não tenho perspectivas de subir, mas também não tenho de descer, sou bem visto, mas ao mesmo tempo não tenho perfil para dirigir pessoas..."
J. não sabia o que fazer da vida nem o que pensar... era daquelas pessoas que se camufla no meio de toda a gente e que tem um pouco de toda a gente e não tem nada de ninguém... um incógnito... passava por milhares de pessoas por dia mas sempre que olhava para elas lhe pareciam distantes, inatingíveis. desejava misturar-se com elas... ser parte da sua vida e não apenas uns meros pontos na história desta cidade. nem no trabalho olhavam para ele como uma pessoa, apenas como um empregado e, nem mesmo a secretária do seu gabinete, que bem feia era, lhe convidara para um café na esquina mais próxima. os seus chefes olhavam para ele como qualquer chefe olha para o mais insignificante dos seus empregados. os seus colegas de gabinete passavam por ele como se nem se apercebessem de que ele existia para além dos limites do gabinete. neta cidade tudo lhe era estranho... desejava alguma cor... nem que essa cor fosse o breu. desejava uma pequena constipação, não para falhar no trabalho, que era o mais preciso possível, mas para que fossem dias diferentes. depois punha-se a pensar... "mas quem pode cuidar de mim que não tenho ninguém que se lembre de que existo?" a altura do ano que mais o aborrecia era o mês de agosto, altura que passava o tempo à espera que o tempo passasse para ele voltar a fazer a viagem para o trabalho. nessas alturas ele inventava que viajava por aquela cidade em que morava e trabalhava. passava pelas ruas que percorria e que conhecia todas as pedras e ladrilhos... demorava precisamente o mesmo tempo a percorrê-las em pensamento que demorava a percorrer na realidade, pois nada mais sabia do mundo que os seus dias nesse vai-vem eterno de casa para o trabalho e vice-versa. hoje olhava para ar e encontrava pássaros que o saudavam como uma pessoa que conheciam de longa data mas que ele não lhe tinha ligado nada. as árvores estendiam as suas folhas para que ele pudesse passar por cima delas e os raios de sol brilhavam como se pretendessem aumentar-lhe o esplendor. e ele olhava tudo isso agora que não podia voltar a casa nem podia ir para o trabalho. andou um pouco mais e descobriu que se estendia no seu caminho para o trabalho um pequeno jardim com árvores e bancos relaxantes. era tudo o que precisava agora. sentia-se um pouco cansado pois percorria um caminho que não conhecia, mesmo que esse caminho fosse o mesmo caminho para o trabalho, o caminho que conhecia tão bem, mas a preocupação das chaves deixara-lhe espaço para fazer maluqueiras.
J. senta-se no banco do jardim e nesse preciso instante é bombardeado com caca de pombo. olha para o casaco sujo e nem se preocupa com isso... a verdade é que o mundo não o perturbava agora... o seu fascínio por tudo aquilo era grande demais para toda a vida que o rodeava. o seu telemóvel tocava insistentemente do trabalho e já alguém no seu gabinete pensara que alguma coisa de mal lhe acontecera... mas não havia nada de mais... deixou-se ficar, largou o telemóvel e manteve-se estático no banco de jardim.
J. nem sabia porque é que não tinha ido para o trabalho na mesmo e ligara à empregada a dizer que deixasse lá a chave. ela bem que o poderia fazer... assim ele estaria naquele momento a trabalhar... mas se assim fosse ele não estaria maravilhado com o mundo à sua volta e não haveria história pois seria um dia igual a tantos outros. restar-nos-ia apenas dizer que ele fora para o trabalho onde preenchera vários papéis e assinara uns quantos de documentos e passara declarações até à hora marcada, altura em que largava o trabalho e vinha para casa. em vez disso deixou-se ficar a olhar para tudo o que acontecia no parque; para as árvores, para os pássaros, para as crianças, para os idosos, para toda a gente que passava, marcando cada uma como se fora um documento único para guardar para a posteridade. cada rosto era único, cada olhar era uma completa ficha de identidade. o andar de cada pessoa explicava mais algo da sua vida, como se fosse necessário registar todos os detalhes para um crime que ocorrera. a um dado momento nada mais fez que deixar-se ficar quieto, sem olhar, com a vida a escoar-se.
J. nunca soubera como o mundo cruel poderia também ser perigoso e esse esquecimento fizera-o baixar armas num local perigoso. os jornais do dia seguinte iriam relatar a morte de uma pessoa nesse parque onde anda tanta gente. tudo para que alguém encontrasse alguns trocos para comprar droga... ele nunca trazia dinheiro e o carteirista não era experiente e preferia matar a roubar... "gostava de lhe ter dito que não trazia dinheiro na carteira... sempre poderia ficar mais um tempo a observar o parque e a descobrir mais coisas nele..."