Thursday, April 14, 2005

Primeira parte ainda provisória PRIMAVERA

É uma quente tarde de Junho. Diz um actor. Verão. O público entra na sala de espectáculos com toda a sala escura. Faz-se sentir a luz que vem do palco com as cortinas a serem corridas. Dois actores movimentam-se já. Um deles veste a personagem Pedro enquanto o outro o nome de André. Os seus nomes foram escolhidos ao acaso, não se trata de ninguém em concreto.

Existem outros actores. Também eles se encontram já em cena mas não se mexem. Estão à volta dos outros dois. Actuam como se fossem sombras julgando os dois protagonistas no centro da cena.

Todo o espectáculo está gravado, tal como se fosse o palco fosse uma tela de cinema de com um registo virtual que nunca foi filmado. Toda a acção gira em torno da problemática relação entre as duas personagens.


Um dia quente como qualquer outro. Quente demais para se andar na rua. O Verão não chegara ainda completamente! Pouca gente havia saído, os poucos que se haviam aventurado, iam pelas sombras. A tarde ainda demoria a passar. Não soprava qualquer brisa na rua, os carros assavam como chapas à torreira do sol.
Os prédios que estavam virados para o sol eram atormentados pelo calor enquanto que os do lado oposto da rua se riam deles ficando à sombra.

No interior de um edifício alugado a vários estudantes pouco movimento existe. Alguns estudantes vão chegando das aulas, outros dormem tanto ressacados da última noite como descansando do calor. Não se ouve nada no edifício.

Por entre as paredes vazias de movimento, entre o ar que quente estático estava, um rapaz chega a casa. Mete a chave na porta do seu quarto, roda a chave e entra.

Mesmo uns segundos antes, o rapaz havia tido uma discussão com a sua namorada. Ela não o queria mais ver, disse que se tinha apaixonado por outra pessoa.
Logo a seguir ele a veria com outro rapaz. Eles os dois passaram de tal forma que não lha foi possível ver a cara do outro.

Um outro rapaz chega a casa. É mais jovem que o anterior. Umas sapatilhas bastante brancas. Pelo tronco tem posta uma t-shirt branca e veste uns calções da mesma cor, praticava ténis e isso notava-se não só na roupa mas também no seu porte elegante de alguém que pratica desporto.

A porta do quarto de ambos os rapazes acaba por fechar-se e ambos se despojam pesadamente na cama. O rapaz que fora abandonado enche os seus olhos de lágrimas. O seu corpo estava quente de raiva e ciúme. Tentou adormecer várias vezes mas vinha-lhe sempre à cabeça a imagem daquele rapaz que lhe tinha roubado a sua rapariga. Quem seria ele?

Alguém grita na escada. A forma como grita enche todo o prédio e dentro em pouco toda a gente vem ver o que era. Ambos os rapazes saem dos seus quartos e cruzam-se mas nenhum deles sabe quem é o outro. O rapaz traído poderá chamar-se André, o outro chama-se Pedro.
As lágrimas de André ainda se faziam sentir no rosto assim como no olhar de Pedro se sentia a cumplicidade de um amante. Ao fundo das escadas uma rapariga caia morta com o seu vestido de verão branco manchado de vermelho.

André ficou a olhar entristecido para a cena. Poderia ser a sua rapariga a estar ali caída morta. Poderiam ser os seus olhos a escorrer as últimas gotas de vida, a passar para o vestido os últimos fragmentos de existência. Chora.

O rapaz de branco olha com indiferença para a rapariga. Nada daquilo lhe dizia respeito. Voltou para o quarto como se nada fosse.

O rapaz que chorava agarra-se mais fortemente ao corrimão da escada. Não sentia forças para agir fosse de que forma fosse. Fica ali a olhar até que os médicos chegam e levam a rapariga embora.

Levaram a rapariga embora. O rapaz não se consolava e foi até à rua passar um pouco o tempo. Chora compulsivamente sem que consiga parar de verter lágrimas.

Ao irem para os quartos ambos os rapazes se cruzam com diferença das pessoas que mal se conhecem. A indiferença dos desconhecidos e que mais tarde recordariam com alguma saudade.
Não se conhecem. Se fossem conhecidos nada do que se seguirá poderia acontecer, as coisas ficariam por uma troca de murros e socos e pouco seguimento teria além de uma breve discussão.

O tempo passa ao som do vento a passar por entre os edifícios da cidade. O tempo passou devagar como passaria uma brisa em pleno pino do verão. Os dias passam seguidos, as noites passam por vezes mais depressa, mas o tempo marca sempre presença no curso da vida.

Ele está num bar sentado a um canto sozinho. Chora. As suas lágrimas correm dos olhos como areia numa ampulheta.
O rapaz que fora traído entra no bar e ao pedir uma bebida olha para o outro a chorar. Para ele, apesar de o conhecer de vista, era um estranho.
Fica um pouco a olhar para ele indeciso sem saber se deverá agir ou não fazer nada.
Ele sente o impulso de o ir ajudar mas sente um espaço imenso entre eles que seria complicado ultrapassar.
Pode estar mais gente no bar mas naquele momento quem importa são somente estes dois.
Ele sai do balcão e desloca-se até à mesa de Pedro. Puxa uma cadeira e senta-se. Ele nada sente, tem a cabeça baixa e os olhos cheios de lágrimas.

André perguntou-lhe se estava bem. Ele não quis saber, para ele aquele seria mais um chato dos que andam por aí a incomodar os outros. Para Pedro, André não existia na cidade. Por isso responde-lhe apenas que não é nada. Nada. Nada. Não, não poderia ser nada, para ele estar assim...
Ele diz: Anda, vem beber uma bebida e desabafar um pouco.
O outro não consegue parar de chorar, por isso André vai buscar uma bebida igual à que tinha na mão e oferece-lhe.
Ele agradece insistindo que não era preciso.
André diz que é para ele se animar.
Ele insiste para Pedro desabafar mas ele diz-lhe para não ligar nenhuma.
– Queres dar um passeio para apanhar um pouco de ar?
– Não, prefiro ficar aqui sozinho.
– Sozinho?
– Sim.
– Parece-me um pouco complicado vir a um bar para ficar sozinho.
André ainda tentou puxar um pouco de conversa mas acabou por não resultar. Ficam em silêncio durante algum tempo antes de Pedro dizer que a sua rapariga o tinha deixado. Ficaram novamente sem conseguir dizer nada.

André recordou a mágoa deixada pela ausência da sua amada. André fica muito pensativo e Pedro notando-o pergunta-lhe se ele lhe tinha dito alguma coisa. Ele disse apenas que também tinha sido abandonado há pouco tempo por uma rapariga. Olham-se e nada fica no ar a dizer.
Os dois choram a perda da pessoa amada. Já não sentem a obrigação de dizer nada. O tempo pode passar por eles sem dizer nada que eles não se importam. O suave gotejar dos olhos fazia a contagem.
O movimento na rua faz lembrar que o calor passou já e que se pode mudar de lugar.
– Moro aqui perto se quisesses vir... – disse André.
– Pode ser. Eu também moro perto.
– Tenho em casa alguns filmes que poderíamos entreter-nos a ver.
Ao entrarem no edifício, onde ambos moravam mas nunca se tinham apercebido da existência comum, ficaram admirados pela proximidade. Apareceu mas costas de ambos um arrepio, uma estranha sensação que não poderíam explicar.
– É estranho, parece que já te conhecia.
– Talvez me tenhas visto por aqui alguma vez.
– Moramos no mesmo lugar é provável teres passado por mim.
Nenhum deles sorria. Ambos sentiam no seu corpo um desespero que não os deixava alegres. Fora esse desespero que os havia aproximado.
André diz qualquer coisa que Pedro não percebe e Pedro volta a chorar. Pela primeira vez Pedro olha nos olhos de André e vê que ele também quer chorar. Olha-o melhor e diz:
– Tens os mesmos olhos que ela.
André quer dizer qualquer coisa mas não consegue.
Pegaram num filme e antes de o porem a girar André disse a Pedro que parecia que já o tinha visto em algum lugar.
– Eu também tenho essa sensação. Mas ao mesmo tempo penso que nunca o vi, como se nunca tivesses existido.
– Talvez nos tenhamos cruzado em algum lugar.
Pedro voltou a falar dos olhos de André e ao falar dava justificação às suas lágrimas que escorriam na face. Mas não se sentia satisfeito.
– Os seus olhos parecem um mar de algas. Não sei se já lhe disseram isto alguma vez, mas...
– Os meus olhos são verdes de tragédia, são sombrios sem uma sombra definida no seu interior. Também conheci uma pessoa com a mesma cor de olhos. Nunca a conseguia olhar durante muito tempo, parecia que os seus olhos me queriam devorar, envolver num manto verde do qual eu não conseguiria sair.
As lágrimas regressam aos olhos de André e começa a murmurar para si mesmo coisas. Dá murros nas suas mãos e a certa altura repara em Pedro e pára.
– Desculpa. Estava sentindo coisas passadas.
Pedro olhou-o de uma forma que o incomodou tremendamente, parecia-lhe que o queria ver nu, ali mesmo à frente dele. Sentia-se um pouco enojado com a ideia e resolveu por o filme.

Um filme porno passa diante dos olhos dos desesperados, diz o actor, não se conhecem os actores e a história é sempre a mesma. Ainda assim o prazer que dá a homens ver esses filmes e colossal, o sangue flúi muito mais acentuadamente no sexo e excita-o, levando-o a querer prazer.

Ele agarra-lhe as mãos e coloca-as em frente aos seus olhos. Pergunta-lhe se são os seus olhos verdes que o fazem chorar. Pedro diz que sim. Deixou ficar as mãos um bocado nos seus olhos enquanto de ouvia ainda os sons do filme.
Ele pega-lha nas mãos e retira-as dos seus olhos agora húmidos.
Pergunta-lhe quando foi que ela o deixou.
Hoje mesmo.
Viram as caras para o ecrã e deixam de falar.
Com o tempo um deles desaperta o botão das calças e abre o fecho para meter a mão no interior.
O outro segue-o.


Faz-se noite na sala. Diz o actor, a peça acaba de começar.

O quarto onde decorre a cena é um quarto de estudantes, onde tudo se encontra disperso um pouco ao acaso. Há livros em estantes e na secretária, folhas por tudo o lado. Não haveriam cadeiras e a cama seriam um colchão posto no chão, na única cadeira que havia estava o ecrã ligado passando um filme porno. Espalhado pelo quarto encontrar-se-iam restos de cinza de cigarros. Junto à cama o respectivo cinzeiro assim como mais folhas de estudo. Pelo chão estariam copos, garrafas de água vazias assim como de cerveja, um canivete espetado sobre a mesa, roupas dispersas, algumas já usadas.

O cheiro do tabaco sentir-se-ia ligeiramente, contrastando com o suave odor de incenso que arderia junto ao canivete. Desde sempre que este cheiro estivera lá, desde sempre eles o sentiram e apenas agora o descobriam.

Os móveis são completamente frios, o metal domina a paisagem não deixando esperanças para a madeira se libertar do seu jugo. Sente-se como se se estivesse numa cela apertada, sem cores demasiado vivas. As roupas dominam o olhar, são as únicas coisas com cor. Os actores misturam-se com o fumo do quarto, tornam-se também eles no fumo e apenas as suas palavras resistem.

A descrição do cenário seria feita como se fosse uma gravação, algo distante, afastado que tenta chegar até ao público. Descreve todos os pormenores, desce o cinzeiro ao canivete, a disposição das garrafas e quais delas conteriam líquido para que o próprio público sinta como se estivesse na sua casa e conhecesse todos os seus cantos.

O lugar onde decorre toda a cena será tratado como uma cela, donde ninguém pode sair. É sempre um lugar de fumo e de cinzas.


Ele encontra-se deitado na cama, olhando para o tecto como se não existisse amanhã. Diria o actor que ele poderia forçar-se a dormir. Por debaixo do seu corpo estão lençóis brancos.
O outro está sentado na mesma cama. Olha-o.
Lá fora ainda faz calor. Pedro pergunta-se se terá sido essa a razão pela qual convidou André para o quarto. Sente-se estranho.
Ele quase dorme e o outro olha-o calmamente, sem desviar os olhos das pupilas do parceiro. A solidão não engana... foi ela que convidou o colega para vir.
Ele dorme agora.
Pedro não o conhece. Ainda assim tenta escutar os sonhos de André em busca de algo que lhe diga quem é ele. Sente-se incomodado pela proximidade de ambos.
Ele levanta-se e tira calmamente a t-shirt que tem em cima do corpo. André abre novamente os olhos e fica a olhar ternamente para a pele macia das costas de Pedro.
Pedro olha para uma das garrafas. Não sabe bem porque é que não as tirou dali antes de trazer gente ao seu quarto. Possivelmente foi para que ele olhasse mais para mim que para o resto.
Apanha as garrafas e dispõe-as todas em fila na secretária. O canivete mantém-se imóvel sobre o tampo.

Ele volta a fechar os olhos.
No quarto não há mais nada que lhe interesse e está calor demais para ir a algum lado. Não pode voltar a casa. Relaxa um pouco. O deu corpo calmamente toma o tom angelical que desde criança conseguiu mostrar a toda a gente. Está completamente deitado sobre a cama. Não é sua mas não tem forças para se voltar a levantar.
Passa pelo estado de sono.
A sua respiração acalma e o corpo quase pára de mexer. Parece morto, os lábios pálidos, indefesos não soltam qualquer som ou sopro de ar. Pouco vento de liberta do nariz, quase se pode ouvir o seu coração a bater.
O rapaz que entretanto o voltou a observar sente-lhe a vida. Pensa que ele deve estar no meio de uma corda e que se o acordar ele pode cair e nunca mais voltar. Durante bastante tempo não se mexe, esperando um sinal da parte dele.

Havia já passado pela cabeça de Pedro que nunca mais amaria uma outra rapariga como amara aquela. O seu coração não era forte o suficiente para suportar outra derrota, para dar novamente tanto de si como havia dado. A ideia de amar uma pessoa do mesmo sexo nunca lhe havia passado pela cabeça; no entanto, agora, ali com André esse desejo tornava-se claro.
Ele queria voltar a amar alguém, não uma mulher mas sim um rapaz. Precisava de voltar a ter o aconchego de um corpo junto ao seu para não enlouquecer. Nem que tivesse de pagar a alguém, precisava de ter uma chama mais forte que a sua agora. Uma chama que não se apagasse com a noite escura e voltasse a acender aquela chama perdida.
Alguns colegas deles haviam já partido para férias. Aconteceu que ambos foram convocados para actividades desportivas do final do ano e teriam apenas férias no mês de Agosto.

A clara e incomodativa luz do dia finalmente apagou-se para revelar o estranho mundo da noite.
A luz da lua era elegante. O quarto não estava ainda com as luzes eléctricas ligadas, havia uma suave luz nocturna a entrar pela janela adentro. Esta não fora ainda fechada. Não o seria esta noite.
Ao olhar para André a acordar, ele voltou a chorar. Não poderia esquecer a cor dos seus olhos lembrando-lhe a sua antiga amada.
Afasta-se dele e lança mais algumas lágrimas junto da janela com uma t-shirt a ser esmagada pelos seus punhos. É púrpura a sua cor.
Ele precisava ainda de voltar a vê-la. Precisava de estar à sua frente, sem amor, sem nada olhando-a nos olhos.

Ele nunca esperara que tivesse passado tanto tempo. Fora uma tarde calma. Agora eram horas de ir.
A decisão de André apanhou de surpresa Pedro que lhe lançou um olhar cheio de frieza. De forma cautelosa tenta de alguma forma levá-lo a ficar mais um pouco. Treme de pensar que André possa imaginar os desejos íntimos de Pedro.
André de nada sabe, de nada desconfia. Para ele as relações entre gays são um pouco ilusórias, acontecem nos lugares mais estranhos. Ele é quase um homem e não pensa nessas coisas.
Ele nunca lhe havia perguntado o nome da namorada do colega. Mas isso não tinha importância, os nomes para ele só servia para complicar o mundo. Foi também por isso que nunca lhe havia dito também o nome da rapariga que o tinha abandonado.
André acende um candeeiro espalhando uma vaga luz amarelada por todo o lado.
Olha para as garrafas e de seguida para Pedro como que a perguntar-lhe porque o tinha feito. Ele não saberia responder.
Ele vira costas a André. Tira as calças e coloca outro filme pornográfico no computador. Estende-se na cama com uma expressão fria no rosto e mexe nos seus órgãos sexuais. A nudez das imagens excita-o.
André olha ainda para as garrafas.
O colega diz-lhe que pode beber de uma delas.
Ele aceita.
Abre calmamente uma das latas e dá um pequeno gole no seu conteúdo. Reconsidera a possibilidade de ficar mais uns instantes. Senta-se quase deitado junto à cama de costas para Pedro e para o filme. Os sons intimidam-no um pouco, ele prefere vê-los mudos, apenas com acção.
Apesar de ser já noite, faz ainda bastante calor. O ambiente abafado do quarto levam André a tirar a sua camisa e a misturá-la com os objectos do quarto.

Eles são do sexo masculino.
Pela barriga de Pedro escorrerá mais tarde ou mais cedo um líquido branco, tanto a dever-se à excitação do filme como à provocada pela visão das costas de André.
Ele não sabe. Pedro não dera a entender que ele o excitava, o observava desde que entrara naquele quarto. A postura de André seria sempre a mesma, uma grande descontracção natural.
Ele recorda-se de ambos chorarem as mesmas lágrimas no bar.
Ele recorda-se de ambos se masturbarem ao mesmo ritmo.
Ele recorda-se de adormecer olhando-o.
A recordação é confusa e faltam-lhe explicações, não deixava de ser estranho estarem ali os dois sem dizerem nada. O silêncio instalara-se e já pouco se poderia fazer agora que não sair.

Ele lança os seus olhos verdes para Pedro mas este não o olha naquele momento, encontra-se bastante absorvido nas imagens do ecrã. Ele queria perguntar-lhe o sentido de tudo aquilo mas apenas teve forças para mandar os olhos. A sua atenção, tal como a do outro centrou-se mais uma vez nos movimentos de vaivém que eram exibidos a cores.

Ele vem-se. Ao espalhar o viscoso material sexual no seu corpo larga um pequeno gemido, bastante contido. André olha-o de lado. A ideia de ambos se masturbarem mexe as suas ideias. Sente um selvagem desejo de agir.

Ele regressa à realidade enquanto o colega o olha. Sente-se intimidado, mas ao mesmo tempo uma certa cumplicidade. Desvia os olhos de André e mantém a cabeça baixa. Por entre os objectos espalhados pelo quarto irá descobrir um rolo de papel higiénico com o qual se limpará. De seguida irá pegar em mais uma garrafa e beberá de uma só vez parte do seu conteúdo.
Sorri para André enquanto este se vem. Nada mais pode sobrar a seguir a este momento que não seja a moleza masculina do pós-orgasmo. Eles não estão habituados a isto, se bem que André se sinta um pouco mais incomodado por não ter ainda percebido todo o ambiente.

Ele revela uma garrafa mais escondida de vodka. Com um ar um pouco solene abre-a e cheira o seu interior provocando um certo desejo de bebida forte a André. Oferece-lhe um bocado depois de ter provado. André manda três goles seguidos.
– Posso sentar-me aqui ao teu lado?
– Claro, eu não vou querer beber isto sozinho.
Só neste momento André se apercebe da parcial nudez de Pedro, apenas uns boxeres justos lhe cobrem o corpo. Bebe instintivamente mais um pouco.
Ele sorri-lhe e André devolve-lhe o sorriso com um outro. A bebida começa a fazer os seus efeitos. Olha subitamente a toda a volta mas o quarto parece sempre medonho. Olha para Pedro.
Fala-lhe de que foi bom o ter encontrado naquela tarde pois isso fez-lhe sentir melhor.
Pedro manda um sorriso como que a dizer que eu também acho. Sente o seu desejo cada vez mais apertado e não sabe se o conseguirá segurar antes que chegue o momento certo.

André põe o braço à volta dos ombros de Pedro e este sente-se bem. André também sorri agora. Bebem mais um pouco. A certa altura Pedro agarra André e deixa-o no chão. Ele, como que desperto de um sonho repentinamente, esbraceja tentando libertar-se. Primeiro pensara que se trata de uma brincadeira mas o olhar de Pedro não o enganava.
– Pára com isto. Não sou um paneleiro como tu!
– Não me vais dizer que não sentiste nada desde que falámos até agora.
Num pequeno momento de distracção da parte de Pedro, André consegue atirá-lo para o lado e ir para a saída do quarto mas Pedro barra-lhe o caminho.
– Não te deixo agora fugir.
Agarra-lhe os braços e prende-os nas costas e de seguida obriga-o a ficar deitado na cama.
– A chave, sou eu que a tenho.
– Dá-me de beber.
Ele passa-lhe a garrafa e André tenta embebedar-se até cair em coma. Pedro impede-o e no momento em que retira a garrafa da boca une os seus lábios aos de André. Este, inicialmente alarmado, acaba por se deixar ir. Por fim abandonam-se ao prazer proibido.
Pedro retira cuidadosamente os calções a André deixando-o bastante incomodado.
– Já alguma vez fizeste isto? Pergunta André.
– Que achas?
Ele engole a seco antes de conseguir continuar.
– Quero dizer, fazer sexo com homens.
– Não. Foste mesmo tu que meteste em mim esse desejo. Não o teria feito se não tivesses os mesmos olhos dela, se não tivéssemos chorado os dois no bar e vindo para este quarto fazer estas merdas juntas.
André começa a soltar lágrimas. Pedro beija-as tentando confortá-lo até ver que não consegue. Nesse momento abandona André violentamente que se deixa ir. Pedro vai até à janela enquanto André acaba de chorar.
Pedro recorda-se dela e começa também a chorar. A certa altura não se apercebe que o colega se aproximou dele em jeito de pedir desculpas.
Ele vê-o chorar.
– Se não quiseres nada comigo podes sempre tentar sair do quarto e espalhar a toda a gente que gostei de ti.
– Não, não o farei.
– Porque não o fazes? Ficas mal no meio de tudo não é?
– Não. Apenas sei que também sinto algo por ti. Apenas não o conseguia ver.
Ele continuou a olhar para a janela e André pegou nas suas roupas e vestiu-as. Pegou ainda na garrafa de vodka e deu mais um gole. Caiu na cama vestido de costas para cima.

Passa-se um tempo sem que ambos comuniquem; percebe-se que estão feridos um com o outro.

– Nunca mais irei amar uma mulher como a amei.
– Não digas isso.
– Ao olhar para ti percebi que me atraías. Ao tocar-te passei a sentir nojo do corpo de uma mulher.

Para o provocar, Pedro despe-se completamente e deita-se ao lado de André de barriga para baixo. Inicialmente ele nem dá por nada, encontrava-se a vaguear pela sua cabeça. Pedro deixa-se ficar.
André olha para ele e sente-se novamente estranho.
– Que foi?
– Nada.
– Sentes-te bem?
– Não sei.
Ele fala-lhe da sua necessidade de ter uma pessoa que o abrace. Diz-lhe que essa pessoa nunca poderá voltar a ser uma mulher, apenas ele. André ainda se sente incomodado mas disposto a ceder um pouco.
– É como se esperasse isto há muito tempo, é como se já soubesse que iria ser aqui. Talvez nunca tenha pensado que eras tu.
Ele pergunta-lhe porque aceitou vir com ele. André responde que estava num momento de desespero. Que numa situação dessas qualquer teria feito o mesmo. Precisava de um consolo. Continua a olhar para o tecto.
- Veste-te.
– Só se te despires um pouco.

Ambos estão com os troncos nus, de calças vestidas. André ainda se sente incomodado com tudo aquilo. Levanta-se e vai até à janela e fica todo encolhido, esperando que o sol nasça. Vai até à cama de Pedro e retira-lhe um cobertor e volta ao seu posto, olhando sempre para o céu.
Pedro há muito que dorme, um sono sem sonhos.
Tem os lençóis todos enrolados no corpo misturando-se com eles.
André quer chorar e não consegue.

O passar do tempo não ajuda André a manter-se acordado e a bebida ainda dificulta mais. Os olhos pesam e ele deixa-se ir. Começa a aperceber-se de que Pedro não lhe fará mal.

Amanhece e Pedro sai do quarto deixando-o fechado. André ficou a dormir até bem tarde da ressaca que ainda não chegou completamente. Tem sonhos. Entre os sonhos surge a sua amada e pela primeira vez ouve-se o nome dela: Diana.
Pedro nunca o ouvirá. Saía sempre à mesma hora para trazer coisas para ambos comerem e os seus ouvidos nunca saberão que a mesma caçadora havia morto dois corações.

André acordará sempre desorientado com Pedro já no quarto. Pede-lhe que traga sempre vodka para beber durante a noite. No dia seguinte acorda sempre tarde. A bebida ainda se faz sentir no seu hálito que com o passar dos dias vai ficando mais descuidado.
Pedro tudo faz para o agradar.
Sente-se mal de o embebedar todas as noites.
Sente-se mal de não o ter para si mas distante.
Sente-se mal por ele ser violento quando não lhe arranja o que lhe pede.

– O que é que aconteceu? Quem és tu?
– Vê lá se não te lembras.
Ele recorda-se amargamente da noite que passou e vira a cara para o lado. Está ao lado da janela.
– Faz calor.
– Deveríamos ir treinar.
– Tu não sais daqui.
Ele volta a meter-se dentro dos seus cobertores e volta a dormir.

Ouve-se um grito. Ou talvez não tenha sido um grito. Pareceu.
Ambos ficam à escuta.
Pedro recorda amargamente aquele dia em que uma rapariga morreu assassinada naquele mesmo prédio. Essa recordação apesar de distante, ainda se encontrava presente. Poucos dias haviam passado desde então.
André também recordou esse dia. Lamentava agora o não ter chorado nessa altura. Se o tivesse feito possivelmente não estaria a largar água dos olhos agora por todo aquele quarto e poderia ser mais forte. Apenas não conseguia.

Em acto de desespero André levanta-se e tira as suas calças.
Caminha.
Pedro olha para o ecrã do computador num outro filme porno.
– Metes nojo.
Ele não responde.
André então coloca-se mesmo entre os olhos de Pedro e o computador. Mexe no seu sexo para chamar a atenção.

Pedro apenas consegue perguntar:
– Porque é que só vestes roupa interior preta?


A leitura do texto deve ser calma. Ouvida de maneira sempre igual, sem tons a sobreporem-se aos meios-tons. Por entre a leitura pequenos momentos aparecem suspensos como que a pedir o que vai acontecer a seguir.
Os actores nunca olhariam para o público, este seria um elemento fora do quarto a julgar. O olhar é sempre para a janela e um para o outro. Para todo o quarto mas deixando sempre notar que o olhar para o canivete espetado é evitado. O olhar só em certos momentos é que seria para este objecto, e quando o fosse toda a gente o perceberia.
Os actores pouco falariam. Os seus gestos e olhares chegariam para falar. Todo o texto seria externo a eles.
A leitura não transpareceria qualquer emoção, diz o actor.


Pedro diz-lhe que ele faz parte de si, das pessoas que passam por ele e deixam uma marca bem profunda. Ele recuou, como se quisesse sair de todo aquele espaço para a rua. Pôs em dúvida a afirmação dela mas ainda assim disse-lhe que acreditava. Pedro perguntou-lhe quem era ele, mais do que um amigo, uma presença naquele quarto, quem era ele para si.
Ele voltou-se para a janela e respondeu que não era nada, não se sentia nada. Pedro não perguntou mais nada.

Calam-se. Por vezes murmuram algumas frases mas são absorvidas pelo silêncio e distância entre ambos. Parecem perturbados em dizer qualquer coisa ao outro. Falam sozinhos como se esperassem que o outro quebrasse o silêncio. André gosta da voz dele. Nunca lho dissera mas talvez tenha sido a voz de Pedro que o tenha feito manter-se naquele quarto.
Ele levanta-se e começa a arrumar as suas coisas. André repreende-o porque gostava do quarto como estava. Gostava de todo aquele caos em que viviam. Se ele o pudesse fazer, possivelmente escreveria uma peça de teatro onde dois actores estariam num quarto exactamente como aquele com aquelas mesmas roupas, com aqueles móveis, com aquela faca. Pedro olha-o abismado. Sente por algo inexplicável que começa e acaba exactamente naquele quarto. O abandono de algum deles seria a morte desse sentimento. Sente-se arrependido por ter de sair todos os dias para ir buscar comida para ambos mas a verdade é que se demora o mínimo para voltar para ele.

O silêncio atinge o seu ponto alto. Não se ouve o mar nem a cidade. Não se ouve o som de outros apartamentos nem dos carros na rua. A noite vai avançando para o seu máximo poder. Ele olha pela janela e tem medo. Pedro sente o leve ar de temor do parceiro e aproxima-se como uma sombra silenciosa. Ele diz que é a hora da solidão. Os horários da noite estão estabelecidos, a limpeza das ruas já passara, o horário da manhã ainda não começara. Todos dormiriam ou estariam em profunda solidão.
O mar ao longe começa a reclamar a sua presença.
Ele olha através da janela para o negro manto e percebe que não mais pode sair daquele espaço. Pedro toca-lhe carinhosamente nos ombros e mantém neles a sua mão. André, como se não sentisse nada continua imóvel olhando para a janela cego a todas as recordações que aquele humano atrás de si lhe trás.
Pedro olha-o muito preocupado. No seu íntimo percebe que não o poderá manter por muito tempo sem que um sentimento de mágoa se coloque entre eles. Olha para o chão. André olha o seu amigo e repara nos olhos dele baixos. Pergunta-lhe se se sente bem.
Ele responde que não. Diz-lhe que sempre que o olha fixamente se lembra dos seus olhos e eles o conduzem até à sua amada. Ele não quer mais sentir essa mágoa.
- Abraça-me - diz-lhe André.
Ele consente e ambos ficam um bom tempo encostados, tronco contra tronco deixando as mágoas de lado. André diz-lhe que não sente medo. Di-lo de uma forma forte para tentar afastar o seu medo da escuridão perpétua em que se vê metido. Diz-lhe para ser forte pois melhores dias virão e cada coisa se resolverá a seu tempo.
Eles separam-se do abraço. André sente que de todas as palavras que havia dito nenhumas lhe pareceram mais sem sentido que aquelas que acabara de proferir. Sentia-se morto por dentro, sem vida.
O silêncio que entre eles havia volta novamente e cada um deles regressa ao seu local, Pedro à cama onde se deita para aproveitar os últimos momentos da noite e André junto à janela meio iluminada pelo candeeiro de rua. Para quebrar o silêncio André pergunta-lhe como serão alguns dos professores do ano que se avizinha. André nada sabe, fora transferido de outro colégio e não os conhecia. O silêncio mortal instala-se novamente.

Ele diz:
- O sol está a nascer.
Pedro não o ouve pois encontra-se a dormir. Não sente um punhado de raios solares atravessarem as pressianas da janela de rompante contra a escuridão imponente do quarto. O canivete brilha aos primeiros raios.
A pequena luz do dia é suficiente para acalmar André e este antes de voltar a dormir exclama apenas que o sol penetra naquele quarto como um vencedor.

Ele acorda levanta-se e sai. André fica novamente sozinho no quarto e murmura o nome da sua amada. Acorda repentinamente e volta a repeti-lo mais uma vez para si mesmo sem qualquer mancha de sentimento. Para ele tudo aquilo é um passado que não o quer deixar.

Ao acordar não vê Pedro em parte nenhuma. Uma sensação de perigo invade o seu corpo e chega mesmo a achar mais seguro vestir mais algumas roupas. Alguém deveria estar para chegar e ainda não chegara. Ao vê-lo naquele quarto despido pensariam as coisas mais hediondas acerca dos dois.

Quando ele chega André encontra-se como sempre a olhar para a janela. Sente como se fosse o seu refúgio e nada o deixa desviar os olhos de lá. Ele olha-o com um interesse puramente carnal. Vestido como ambos estavam sentia um profundo desejo de rasgar as roupas de André e o jogar no chão indefeso. Sabia-se com força, mas sem qualquer coragem para o fazer.
Pedro pede e André que tire a sa roupa de forma suave para que ele o possa apreciar. Ele diz que não sente vontade nenhuma de o fazer mas perante o olhar reprovador de Pedro cede um pouco e começa a tirar a sua roupa branca, agora um pouco amarrotada, do corpo.
Ele está ali, em frente a ele. As roupas que tira revelam a sua pele clara por debaixo. Ele ali está como sempre foi, nem mais nem menos. Sempre ali esteve naquele quarto mesmo antes de o trazer para lá. Aquele quarto sempre fora dele e Pedro, naquele momento, sentira-se um estranho na sua própria casa.
Era dia e o sol brilhava numa manhã de verão.

Ele pergunta-lhe se ele olha sempre assim para uma pessoa. Ele diz que não. Nunca olhara outra pessoa assim.
– Agrada-me acima de tudo. Faz-me sentir mais nu do que verdadeiramente estou.
Ele continua a olha-lo por mais algum tempo tentando nunca olhar para os olhos verde dele.

Ele está novamente nu. Passeia-se pelo quarto como se fosse um desfile de moda. Pedro olha-o intensivamente. Nunca vira nenhum ser humano de forma tão completa como via André.
De forma a provocá-lo, André encosta-se a uma parede e de costas para ele começa a masturbar-se. De princípio Pedro apenas o olha como um corpo bonito sem se aperceber do que fazia, mas com o tempo notou o que ele fazia e repreendeu-o começando a chorar.
André ao sentir o choro não o olha. Fica voltado para ele, encostado à parede com um sentimento de culpa a pesar-lhe.

Começa uma nova noite. Ao fim de várias horas sem falar ele pede-lhe suavemente para que ele não volta a fazer-lhe o que havia feito. André para quebrar o silêncio pediu-lhe desculpas.
– Achas que faria bem de mulher?
– Como?
– Como me manténs aqui preso e somos gays pensei em vestir-me de mulher para te poder agradar.
Ele diz-lhe que daria uma mulher brilhante mas ele nunca mais poderia olhar para ele da mesma forma como tinha olhado. A partir desse momento seria convidado a sair do quarto para nunca mais voltar. Ele pergunta-lhe porquê e Pedro diz-lhe que se isso acontecesse, ele teria de usar roupas como as da sua amada para que pudesse vestir como uma mulher, o que lhe daria uma grande tristeza.
André pede-lhe novamente desculpa e promete não voltar a tocar no assunto.

André pega apenas na sua roupa interior e veste-a. Sente-se culpado por alguma coisa que não compreendia bem o que era. Aproxima-se de Pedro que se mantém quieto sem parecer notá-lo e toca-lhe delicadamente na cabeça. Pedro acata os mimos e aproxima os seus lábios dos de André.
– Gostaria que não o tentasses fazer durante os próximos tempos. Não estou ainda preparado para beijar alguém mais que a rapariga que amava.
Pedro fica meio perturbado mas compreende perfeitamente. Ambos sofriam a perda de alguém de quem gostavam muito e não haviam aceite muito bem a homossexualidade. Ambos se sentem frágeis naquele momento, frágeis em relação a eles mesmos e em relação ao outro. Não conseguem suportar ainda o facto de que a vida de ambos havia mudado de uma forma bastante radical, assim como não conseguiam saber como deveriam agir com o outro. Apesar de todo o contacto que tinham, nunca haviam estado mais distantes do que estaria naquele momento.
André pediu-lhe para que ele pudesse pagar alguma coisa das despesas dos dois. Pedro recusou; a ideia de ele ter de sair para levantar dinheiro era no mínimo o fim de toda aquela relação.

Ele tem os olhos da cor dos dela. Tem a cor dos olhos da cor das folhas e da erva. Tem a cor da liberdade que não lha podem conceder.
Ele tem um rosto com linhas direitas. Parece um pouco magro mas nota-se que existem traços de praticar desporto. Nunca antes estivera tão próximo de um corpo daqueles. Tão próximo e ao mesmo tempo tão distante.
Ele volta à janela. Lá fora os seu olhos verdes passeiam pela rua cheia de gente de uma noite de verão. Ainda não é tarde e precisarão de comer algo.
André não sente vontade de comer e deixou-o bem claro a Pedro que insistentemente lhe oferece coisas para a mão. Ele afasta-se e deita-se na cama a chorar.
Pedro acaba por ficar sem fome também, nunca teria piada comer sozinho. Aproxima-se dele e deixa a cara ficar mesmo em frente da de André que a tenta esconder com as mãos. André acaba por parar de chorar e olhar para Pedro.
Ele tem o olhar enternecedor. Os seus olhos são vazios de sentimentos. Ele já amara verdadeiramente alguém e seria difícil o voltar a fazer. Por fim rende-se completamente e deixa-se levar a dar o beijo de reconciliação. Pedro inicialmente surpreso alonga-o um pouco mais mas em breve o parceiro o afasta.

Ele pergunta se o fez por pena ou se por desespero. Ele reponde que ambos, tal como ele também André sentia que não poderia dar amor a mais alguém e, no entanto sentia vontade de o receber de algum lado. Ambos estavam cientes de que nada poderiam esperar do outro mas mesmo assim tentavam quebrar os muros de ferro que haviam erguido à sua volta.

Ele está deitado, dormindo tranquilamente. André levanta-se e vai até à janela olhar para o negro da noite. Perdido entre a cor preta, vários candeeiros estão acesos a lembrar que ainda existe luz eléctrica. Junto ao prédio encontrava-se um casal de namorados beijando-se alegre e abertamente. André sentia que nunca mais poderia voltar a fazer o que aqueles dois estavam a fazer.
Enquanto namorara a sua rapariga, André nunca o assumiu diante de todos, uma vez que ela lhe pedia para que fosse poupada a um escândalo por causa do seu ex-namorado. Ele sente que alguém na tão longínqua cidade havia gritado novamente. Alguém estaria a pedir ajuda para conseguir viver mais um pouco antes de cais morta nos braços de alguém. Ele perguntava-se se estaria alguém para acolher aquela pobre alma. Sente um grande desejo de mandar um grito de dentro daquele quarto mas ao tentar erguer a sua voz aos céus, vê-se obrigado a ficar calado pois o ar que lhe sai dos pulmões não consegue articular um som que seja nas cordas vocais.

Apesar de todas as coisas que acontecem naquele quarto, André não se queixa, gosta de estar ali, sente que aquele é o seu lugar, o seu ventre. Toda aquela cidade se apresenta para ele como uma grande mãe que o acolherá quando sair daquele quarto. O período da gravidez durava ainda.
– Este filho que queres para ti não está ainda pronto para sair da placenta.
Pergunta-se a sim mesmo se encontrasse alguém num bar que estivesse a chorar, haveria ele de ir ter com essa pessoa para a tentar consolar? Sorri ao saber que nunca poderia saber a resposta. Todas as coisas que lhe haviam acontecido poderiam voltar a acontecer a alguém mais.
Olha para Pedro a dormir. Sente que nada mais lhe pode dar além do seu corpo. Tudo o que pode dar é carnal, é sexual, é transpirado de acção bruta e sem sentido. Sente que apesar de serem almas gémeas nunca poderiam viver juntos para toda a eternidade, seria demasiado doloroso para ambos.

– Falas demais sozinho. – Diz-lhe Pedro que subitamente acordara.
– Beija-me.


A sala estaria às escuras e nada mais se ouviria que não um actor a dizer que a peça acabava de começar. Começaria a cada frase, a cada palavra como se fossem cortes de uma faca num diamante.

Os actores não teriam de ser mesmo actores de teatro, poderia ser qualquer pessoa a quem lhe dessem um livro para ler em voz alta e bem clara. Nunca memória alguma do texto poderia notar-se. O texto seria sempre uma novidade para que o lesse. Tudo é novo, por usar. As peças de roupa espalhadas pelo chão estariam engomadas e os actores não teriam de vestir de forma destacada das outras pessoas. Todas as palavras surgem ao ouvido como se fossem novas de uma linguagem ainda por inventar.
Os protagonistas seriam sempre as pessoas destacadas. Nada nem ninguém à volta poderia perturbar o mundo daqueles dois, eles eram o elemento estranho, tudo o mais seria um mundo comum.


Ele deixa André dormir. Ele estava tão preso àquele quarto como Pedro. Olhando-o, assim tão desprotegido e solitário como André estava, é que ele se lembrava de coisas como aquela.
Ele sente-se constantemente observado. Não se incomoda, essa sensação deixou-o há muito e agora apenas sentia vontade de gritar mas controlava-a para não o incomodar. Sentia vontade de lhe pedir para poder sair daquele quarto.
- Poderia sair, voltaria mais tarde. Dava-te o meu contacto, ligavas-me assim que precisasses de alguma coisa. Estar aqui todo o dia ou não estar é a mesma coisa. Preciso de respirar ar fresco. Preciso de ver o sol. Preciso de treinar.
Levanta-se e pega nas suas roupas. Bebe um pouco e olha para Pedro. Este está a chorar. Os seus soluços sinceros libertam-se como se ele fosse uma criança. Sente que lhe provocaram uma grande dor. Tenta conter-se mas acaba por não conseguir. Por fim Pedro abandona-se no meio da cama todo encolhido.
André sente-se cada vez mais abandonado por ele.
André, ao mesmo tempo, sente que Pedro está cada vez mais dependente dele.
- Não sabes mesmo o que queres de mim. Pois não?
Ele age como se não tivesse ouvido. Continua a chorar até se aperceber que alguém falou e que esse alguém, era o mesmo rapaz com quem tinha falado naquele bar.
- Sinto hoje muito a tua falta. Desejo-te ardentemente como se fosse a primeira vez.
Ele diz-lhe para bater umas quantas que resolveria o problema. Com o esperma a escorrer pelo corpo, o desgaste físico que o orgasmo exigia, a sua falta seria anulada. Tudo o que precisava era limpar as lágrimas da sua face para que as coisas se levantassem. Ele sairia um pouco e daí a pouco tempo estaria de volta. Ele nem daria pela diferença.
Pedro não lhe disse mas o seu maior receio era de que ele não voltasse.
Pedro não disse a André mas o seu receio era que ele mesmo enlouquecesse com a falta do companheiro.
Ele volta a chorar e André olha-o com uma certa indiferença.

A noite acaba por cair novamente na cidade. Cada um deles vai para o seu lugar de dormida, indiferentes. André não se tinha ido embora. Possivelmente por pena, pensava Pedro. Estava angustiado, não suportava a ideia de que André tivesse pena dele. Haveria ainda de chorar naquela noite mas ainda era cedo.
Tanto Pedro como André não dormiam, esperavam que o outro adormecesse primeiro para poderem chorar no silêncio da noite. André, de costas para Pedro, olhava para a janela. Estava deitado, parecendo a Pedro dormir. Os pesados cobertores de Pedro cobriam-lhe o corpo e isso fê-lo sentir demasiado calor. A ideia de se esconder nesses pedaços de pano foi abandonada. Tirou os cobertores de cima do corpo, assim como as roupas. Manteve-se deitado com a luz do luar a banhar a sua pele.
Pedro observava calmamente. As suas mãos eram postas debaixo do lençol branco e levadas até ao seu sexo e a agitá-lo levemente.
A noite de insónia haveria de durar o tempo suficiente para cada um sentir a angústia do outro. A noite haveria também de ser longa demais para que adormecessem ainda. Dormiriam pouco.
Ouvir-se-ia o suave respirar da noite e dos dois corpos.

Dormem afastados um do outro.
Nunca haveriam de saber quem adormecia primeiro. Durante a noite lágrimas escorriam e de manhã ainda se viam os restos húmidos do choro nocturno. Cada manhã acordavam e haviam esquecido tudo.
Pedro era sempre o primeiro a levantar-se.
Saiu.

Durante essa manhã André agitava-se violentamente junto à janela. Pedro não estaria lá. O sol vindo de fora aquecia o corpo de André. As pressianas haviam sido abertas na noite anterior, não haviam sido fechadas.
Pedro chegou.
André ainda dormia. Um genido soltou-se da sua pele.
Pedro apercebeu-se que o amigo não estava bem e correu para o ajudar. Viu que ele ardia em febre. Por momentos ficou parado, um pouco pasmado.
O corpo adontado é levado até à cama e posto numa posição confortável. É-lhe difícil ver o colega sofrer, sai.

Ele volta a correr. Olha o colega enfermo e chora.

- Eu sou, serei sempre responsável por ti. - Agarra-o e encosta a cabeça dele ao seu peito. A respiração irregular de André estabiliza. Talvez o som do coração de Pedro o tivesse acalmado.
Pedro sofria. A culpa do estado dele era sua. Ele é que o obrigara a ficar ali com ele. Até então não se tinha apercebido de que havia feito mal à pessoa que mais amava. Essa lembrança magoava-o profundamente. Ao olhar para a porta daquele quarto, apercebia-se que aquele não era o seu quarto. Ele pensava-se um estranho naquele lugar. Pensava que aquela não era a sua história. Chorava.
André não dizia nada. Estava imerso num sono profundo que em certos momentos o fazia contorcer-se todo. O seu delírio ainda não se havia revelado ainda, mas a sua consciência do mundo havia-o abandonado.
Agora, completamente deitado, o corpo enfermo era coberto por tishirts molhadas para o arrefecer. Pedro não lhe tocava mais que com os toques necessários para cuidar dele. A culpa mantinha-o afastado.

A meio da tarde a febre baixara e em pouco André, que há muito dormia tranquilamente, abrira os olhos. Ao abri-los, a primeira coisa que mira é o tecto. Perde tempo a olhar para o tecto, sem expressão, como se fosse um morto.
Havia já algum tempo, ainda antes de André acordar que Pedro tinha ido para a janela e olhava para a rua.
André repara nele como se nunca o tivesse visto e ele fosse um elemento estranho naquele quarto.
- Que fazes aqui?
Pedro vira-se para onde vinha aquela voz adoentada. Sente-se cada vez mais um estranho.
- Conheço-te de algum lado para estares aqui comigo?
Pedro chora.
André diz-lhe que gostava de o ver chorar. Não tinha a ver com o facto de gostar que ele gostasse de o entristecer mas os olhos dele ficavam mais bonitos assim. Chama-o até ele e quando está encostado a ele beija-lhe os olhos húmidos.
Pedro olhs-o nos olhos e recorda Diana.
André pega numa peça de roupa húmida e passa-lhe o rosto a limpar-lhe as lágrimas.

- Tenho o coração completamente nu.
- Não digas isso. Eu estou aqui. Vou tratar de ti.

A noite havia caido e atingia agora metade da sua duração. Pedro dorme e André repara no seu pénis agora bem erecto. A doença fazia-o desejar matar aquele calor, arrefecer. Procurava atingir o orgasmo e encontrar algum alívio depois disso.
A visão de Pedro, ali mesmo ao seu lado dormindo excitáva-o. Ele dormia. Enquanto estava entregue ao sono, um rapaz entregava-se completamente ao desejo. Desejaria poder violá-lo sem que ele acordasse.

André como estava farto da cama levantou-se. Pegou nas suas roupas brancas e vestiu-as como quem veste um fato de gala. Tão suado que estava, as fibras do tecido colavam-se instantaneamente à superfície da pele.
Pegou nas sapatilhas de um branco incandescente e calçou a primeira apressadamente. Ao ir calçar a segunda apercebe-se que não era bem isso que queria e descalça-se.
Os seus pés nus tocam nas roupas espalhadas de Pedro.

André deseja satisfazer as suas fantasias. o seu corpo meio fraco arrasta-se pelo quarto procurando algo de interesse no chão. As suas mão férvidas agarrma em três garrafas de cerveja. O conteúdo de uma delas é despejado no seu estômago e deixa o seu corpo abandonar-se ao efeito do alcool.
No meio de toda a confusão encontra ainda um cigarro e um isqueiro. Acende o cigarro e deixa-o a arder no conzeiro. Anda quase como se estivesse constantemente a dançar uma estranha dança de loucura. Aproxiam-se de Pedro e dança mais um pouco na sua frente. Como ele continua a dormir beija-o.
Pedro acorda sobressaltado e olha abismado para André.
No meio de uma dança sensual, André eleva uma das garrafas até à boca e bebe mais um pouco. Depois deixa-a cair como se tivesse sido por engano. As outras duas garrafas ficam no cimo de braços completamente estendidos, dançam como se fossem um par.
De um momento para o outro, André sorri a Pedro e verte a cerveja para cima do seu cabelo e corpo. Com o agitar da dança, espalha por todo o quarto gotas de álcool esquecido.
Cai pesadamente no chão.

Pedro levanta-se imediatamente. Despe-o apressadamente e deita-o na cama. Corre a fechar as pressianas, a luz agora incomodáva-o. Olha-lhe a temperatura. Ele está muito quente. Pedro agarra em várias garrafas de água e despeja desesperadamente o seu conteúdo sofre a cabeça e peito de André procurando aliviar-lhe o calor febril. Lavalhe o suor.

A cama está lamentavelmente molhada. Pedro apercebe-se disso mas nada faz. Beija-o. Pela primeira vez, um enorme desespero apodera-se dele. Sente que vai perder a pessoa que ama. Sabe que o vai perder para sempre. As lágrimas que lhe escorrem na face sabem-lhe amargamente. Sentia um enorme pesar mesmo antes de André morrer. Tinha uma dor profunda por não lhe ter dito que o amava verdadeiramente. Sentia a falta dele, mesmo com ele ali.
Amanhã, pensaria ele, terei de o deixar ir. Terei de o levar ao hospital e sei que nunca mais voltará. Abandona-o e vai para junto da janela. Quer ficar sossegado, em paz.

Manda um grito. Tenta respirar de forma regular mas não consegue, há demasiadas sensações a trespassá-lo. Ouve um grito, ou talvez apenas o tenha imaginado. O seu coração bate caoticamente. Sente-se um estranho no quarto, no seu próprio quarto.
Pedro desejaria ajudar André mas não consegue. Nada pode fazer por ele. A loucura invade-o pela primeira vez. Sente que está na pele de André e consegue sentir os seus poros a libertar suor. Vai até à porta e suplica para que alguém que esteja do lado de fora o ouça e lhe abra a porta. Pede ajuda, nas sem sucesso.
Ele vira-se e repara no canivete. Como se nunca o houvera visto, pergunta-se porque está ele ali. Desejaria ser derrotado pela espada da morte. O simples gesto de se matar repugna-o e sedu-lo ao mesmo tempo. Se houvesse alguém a matar-se naquele quarto, esse alguém seria o André e não ele. Repara que o colega dorme agora um sono tranquilo. Nota a sua fragilidade. Ele ainda é uma criança.
Deixa cair o seu corpo de costas para a porta. Olha-o durante muito tempo até se decidir a adormecer. O dia nasce então.

Ao acordar vê que André dorme ainda tranquilamente. Tem no corpo uma dor de cansaço, tem dificuldades em manter-se acordado.
Passa-se algum tempo e resolve abrir a janela para entrar um pouco de vento. Pega no canivete e fecha-o voltando a colocá-lo em cima da mesa. Mantém-se frio e solitário.
Aproxima-se do corpo de André e nota um frio demasiado poderoso no corpo dele. Frio demais. Corre para fechar a janela e volta para junto dele. Abraça-o desesperadamente procurando aquecê-lo e nota-o bastante duro. Senta-se na cama e beija-lhe os lábios. Estão frios. Tocalhe no pescoço.


A peça começa agora, diria o actor. Nada se sabe acerca das personagens, da história, apenas o nome de cada uma. Um nome como qualquer outro.

Eles olham-se durante muito tempo sem nada dizer. O público estranho nunca entraria no seu mundo, é algo de distante. É algo de estranho.

A peça começa agora, agora, agora. A peça começa e termina sempre. O actor olha o público como se esperasse dele uma resposta. O público seria indiferente, estranho.

Wednesday, April 06, 2005

Narciso

Amo-me acima de todas as coisas. Por vezes via-me ao espelho e a minha imagem era tão bonita que chego quase a pensar que o meu espelho é mentiroso. Chamaram-me um dia e disseram-me que era bonito. Queriam-me. O meu ego foi tanto que em vez disso resolvi afastar-me e voltar a casa. Quando chegeui a casa mirei o meu espelho e o que é que vejo?
EU apenas EU.
Tirei lentamente toda a minha roupa e fiquei uns instantes olhando para aquele reflexo que tanto amava. Sabia que nunca o poderia amar completamente, aquela imagem não era real... eu não estava do outro lado do espelho.
Ainda assim fechei levemente os olhos e aproximei-me do espelho. Fiquei a sentir o reflexo. fiquei a sentir-me ver-me a mim próprio.
Aproximei os meus lábios do espelho e beijei-o. A minha paixão era tanta que beijei o meu reflexo sem ver o tempo passar. o que me importava é que amava o reflexo... não sabia se ele me amava mas isso não me importava. Os meus lábios gelavam como se a frieza do meu reflexo quisesse quebrar o calor da minha paixão. A certa altura a excitação era tanta que o meu pénis inchou de prazer. A tusa era tanta que apesar da ridícula imagem resolvi envolver-me num estranho ritual de sensialidade onde nenhum dos dois prisioneiro poderia envolver-se completamente com o outro. Um vidro separáva-nos. Um vidro, antes limpo para que me visse bem, agora encharcado em suor dos nossos corpos.
O meu sósia estava excitado demais e no meio de tanta paixão levou a mão ao seu sexo e começou a deslizar as peles para cima e para baixo. Gemia... O prazer era acima de tudo arrasador; nenhum dos dois conseguia conter-se. O esperma deslizava pelos conplexos tubos, passou por todas as glândulas e os músculos do teso pénis forçaram-no a sair.
Os meus olhos reviraram-se de excitação e o líquido viscoso ficou preso no vidro que nos separava... Os nossos olhos ainda se cruzavam... Queriamos o outro mas isso era imposível. A ponte que nos separava era intransponível...
Não sei qual de nós teve a ideia, mas a verdade é que forçamos aquela barreira a ceder. tudo estava bem até que o pequeno esforço se conveteu numa força brutal de ambos os lados e abrimos uma pequena fresta que em pouco se converteu numa grande fenda que queria partir o vidro em dois. Um segundo foi o que durou a nossa eterna e definitiva separação.
O vidro...
Estilhaços...
Um chão sujo de sangue...
Um corpo ensanguentado...
Um segundo converteu os nossos desejos mais violentos em perdas maiores... Não mais consegui erguer a minha cabeça daqueles pedaços de vidro, não mais consegui sentir o meu reflexo completo. Aquele espelho era tudo o que tinha e foi-se embora. Só depois de perceber o que se havia passado é que me dei conta que não mais o voltaria a ver... A minha paixão fora-se. Todos os meus esforços acabaram em tragédia. Foi então que chorei...
Chorei tanto e tão amargamente que os olhos desesperados que apareciam nos estilhços já mal me conseguiam ver-me. Não eram mais os do meu reflexo...
Não era mais eu...
Diziam que eu era bonito. Talvez tenha sido por casa disso que as minhas mãos se tornaram folhas e a minha cabeça uma flor...
"Corri por entre janelas e portais procurando encontrar pessoas e só encontrava cadáveres... As pessoas custam a morrer... As lembranças custam a esquecer..."
Este foi um bilhete que recebi de um amigo meu. Não soube que responder-lhe... Ele apenas olhou para mim com o seu olhar triste e eu beijei-lhe. Foi a ultima vez que nos vimos.
Um lugar onde só se pode comer, foder e morrer. O vento sopra mas nada alivia este pesar... Correm rumores de um novo dia que teima em chegar... Passa o dia muito, muito devagar.
Olho as pessoas com uma nítida imagem de desgosto. Nada sabem do que se passa com esta pobre alma atordoada. Uma revolução percorre-lhe o cérebro e nada há vista para que as coisas melhorem.
Querendo mas não poder...
É assim que me sinto cada dia que passa por entre as pessoas que me rodeiam; percorre-me o desejo de lhes saltar em cima de abrir as minhas mãos para lhes mostrar-lhes o como são. Mostrar-lhes que nunca sentiram nada num verdadeiro sentir.
Um dia estive com uma pessoa deitado numa cama e perguntou-me como me sentia respondi-lhe que me sentia como um cisne que haviam morto e que renascia. Não percebeu o que quis dizer e na altura não lhe expliquei...
Senti-me renascer, surpreendi-me, aquilo que senti foi como se renascesse das cinzas para reiniciar a minha vida; uma vida nova... Aconteça o que acontecer eu quero mas não posso. Tenho sempre um fio atrás de mim puxando-me a uma realidade negra, real...
BENVINDOS AO MEU MUNDO diz o porteiro.