Wednesday, October 06, 2010

Obscuro amor - Um quadro algo poético


Agarro uma pena que caiu. A pena suave tem o toque da seda e transmite um hiperbólico respeito caloroso. Ontem choveram penas junto a mim. Todas elas eram brancas e sedosas. E todas elas vinham de asas majestosas. Asas de alguém que amei e não escondi e, de tanto desejar, o desejo incerto da outra parte se fez cair na face real do mundo. A goma que unia as penas brancas e sedosas caiu no chão como sangue divino a escoar a imortalidade do ser que amo. Eu prendi com correntes que o sol não há-de ver, os braços daquele que amo e fiz que os rios da essência divina escorressem qual porco pendurado a sangrar. A sua cara tinha o abatimento do sofrimento e a alegria do final no penoso caminho. Hoje vejo bem, mais valia a esse anjo fazer como os navegadores de Ulisses e não ouvir o meu canto para não ter de sofrer as amarguras e a fragilidade de um amor tão curto, tão efémero.

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