Thursday, August 25, 2005

Casa-de-banho

As dobradiças da nossa casa-de-banho giram em torno de um eixo fechando a porta da nossa intimidade. A nossa entrada naquele canto do mundo desencadeia uma série de encantos e desencantos na nossa existência. Giramos a porta à espera que ela se feche e nos começemos a tocar sexualmente.
Estou só
Tiramos as roupas e começas a lamber-me o sexo tal como fazemos na pprivacidade de um quarto. Foi este o espaço onde nos encontrámos por acaso. Foi este os espaço onde tivemos a nossa primeira existência como par.
Quero-te
Não sei se me ama. Desde que nos encontrámos que não dizes uma única palavra enquanto eu te segredo ao ouvido que gosto imenso de ti, enquanto te conto que te desejo todas as noites.
Estou novamente isolado
As casas-de-banho estão agora desertas. Não há ninguém pelas ruas. Na tentativa desesperada de arranjar um parceiro deixo um pequeno registo na porta da latrina. Espero pela vinda de algum homem que lhe atraia o meu slogan.
Bom a chupar. Duvidas? então liga
desespero, desespero,... nada mais encontro nos dias que passam que a mágoa de percorrer a via sozinho
Estou sem companhia
Fazes-me falta, sabes?? Por entre cada porta, em cada casa-de-banho procuro encontrar um resto do teu aroma ou da tua existência. Em todos os lugares que visito apenas me percorre um sentimento de vazio. Para mim todos os locais de engate a que ia antes de te conhecer, parecem agora desfeitos de sentido. Todas as conversas que me predispunha a ter não passam de maneiras de passar o tempo antes de chegar ao momento de te voltar a ver. A urgência de um encontro a dois naquele lugar onde nos conhecemos desperta em mim um desejo incontrolável.
Ouco os autocolismos a descarregar. Ouço homens a mijar de pé. Vejo-os a percorrerem o espaço que os leva a descarregarem mais um pouco da sua existência pelo esgoto.
Sinto-me vazio.
Procuro encontrar respostas e só enconto ausências. DEspejo pelo autocolismo mais um resto do último encontro que tive para te tentar esquecer. Pela água borbulhenta da sanita vejo rodopiar um preservativo cheio de esperma. Não importa de quem era. Se meu, se dele, todo este vazio que cerca a minha existência deixa de ter pessoas concretas. Bato mais uma punheta na lembrança da tua picha. Deito um pouco de saliva na sua ponta para que a textura da minha mão me excite cada vez mais. Lanço um pouco mais de pontas de cigarros na minha pele para exercitar os meus nervos. Lanço-me na bruma pecaminosa desta nossa cidade.
Saio do wc.
Tal como estava, assim ficou. As pessoas entram, as pessoas saem, gente fode nos cubículos enquanto eu choro. Pego em várias folhas de papel com as quais o pessoal limpa as mãos. Seco com elas o rosto. Não gosto que me vejam assim. Amo um homem do qual esqueci o nome. Da cabeça não me sairá a forma do seu falo, a forma como fodia, como era o seu cú, a forma como era possuí-lo completamente. As nossas fodas sem casa marcada, sem hotel, com bruteza masculina. As nossas fodas tão nossas como nunca partilhei com ninguém.
Saio da nossa casa-de-banho - não mais choro.

No comments: