Saturday, April 09, 2011

Um GayChoice inspirado em...

Começo o GayChoice de hoje com Pet Shop Boys (tão previsível para um blog gay!). É verdade. Hoje decido iniciar com um grupo que muito já tem dado que falar e que caminha sempre ao lado do mundo gay. Mas não vou falar muito do grupo. Vou simplesmente pegar numa das suas músicas como mote para este artigo.

Vai para o trabalho e atende as tuas chamadas como muita gente faz num dos mais vulgares trabalhos neste país: operador de call center. É falando de trabalho que quero começar ao som de uma carta do dia vermelho.
Durante todo o dia Pendura os frutos do teu trabalho nas paredes como se isso fosse a coisa mais importante que haja a fazer, com uma Tal precisão e cuidado que O que importa é não
haver ninguém para compartilhar. Este é o drama do trabalhador que nestes dias habita neste país. Nem mesmo os que vendem o seu corpo ficam isentos que os clientes vão escasseando cada vez mais. Todos dizem que é da crise. Mas que MERDA já ando farto desta crise. Solicito que seja criada uma comissão de impedimento do espírito de crise tão generalizado.
Eu ainda tenho as minhas Flores no jardim ou na garrafeira o meu Blue Wine a ver uma apresentação muito pouco profissional de teatro do "À Espera do Godot" e tudo isto deve ser visto á luz de um tempo moderno. Moderno porque nos queremos modernos. Porque é moda estar moderno e tanto tempo moderno?
Tudo que eu quero é o que queiras estar sempre à espera de um dia memorável. E a espera continua… valem-nos as festas e as noitadas de copos que passamos. Se assim não fosse passávamos o tempo com o rosto das noivas que aguardam serem casadas no vídeo da dita música que serve de referência. Como as coisas modernas são tão, tão…, são tão modernas! O ser-se moderno é estar na vanguarda de alguma coisa que nunca ninguém ainda percebeu muito bem. É estarmos dentro de um filme do Tati ou de um livro do Kafka num tão embrulhado processo demasiado burocrático para percebermos os seus passos.
O que nos vale é que o aperfeiçoamento dos anos numa postura de medida legal nos fada a existência num conjunto extravagante de preceitos e normas e dependências novas que acabam por ser para algumas pessoas mais velhas fados de insignificâncias. O que vale é que começamos a entender tudo o que nos rodeia e começamos a deitar fora o que achamos que não nos serve. O que achamos… será que largamos tudo o que nos é essencial? Será que largamos os nossos velhos hábitos? Eu não quero ser demasiado “padre” a pregar num púlpito porque no momento em que se começa a entender tudo o que na terra é o lucro de um homem, começa a procurar cultivar-se a ignorância. Assim, por exemplo, as pessoas são bombardeadas com notícias insignificantes. São envolvidas em filmes que nada trazem senão devolver-nos ao estado de homens das cavernas.
Tudo que eu quero
é o que quiseres
Estou sempre à espera
de um dia memorável e enquanto isso continuamos na fila interminável de pessoas que se mantêm à espera de serem iguais aos seus ídolos. Todos queremos ser uns Elvis, uns Hulks, uns Apolos, todos queremos ser iguais a este e àquele, todos queremos ser garanhões e andar a foder com este e aquele (que me perdoem a linguagem, mas achei a mais acertiva), ou de termos um casamento com um príncipe ideal que manterá a sua fidelidade para todo o sempre e para todo o sempre seremos felizes. Tal como uma história interminável. A dado momento o cantor sai da filinha indiana. Será que queremos sair da linha? Tornarmo-nos independentes?
Se calhar não quero. Se calhar não quero mesmo deixar de andar a dar as minhas voltinhas com quem queira e assentar num clima de castidade (esse seria verdadeiramente um grande trauma, pior que as abelhas assassinas, o filme). Pois é… ao contrário do cantor, que diz que para algo especial
algo novo
alguém a dizer 'eu amo-te'
Querido, eu estou à espera
para o dia vermelho – eu responderia… que espere sentado. E não é que ele adivinhou a minha resposta e responde:
“Podes gozar ou desaparecer por trás de um verniz de auto-controle…” a verdade é que gozamos um com o outro porque quando tentamos ser o mais “normais” (iak) procuramos seguir um conjunto de regras de encontro aos nossos ídolos de pessoas bem sucedidas na vida.
Mas para todos aqueles que não se encaixam que seguem seus instintos e são informados de que pecam esta é uma oração para uma forma diferente. Será que o quero? Esta é sempre a questão. Nunca se quer mudar e todos queremos superar os nossos ídolos e ser mais ídolos que eles.

Tudo que eu quero
é o que quiseres
Estou sempre à espera
para um dia memorável

O resto da música fica para a vossa imaginação que eu tenho ali um rapaz a piscar-me o olho e devemos ir para algum quartinho alugado enterrar-nos num momento quente sem qualquer significado. Para quê esperar mais do mundo.

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