Saturday, July 03, 2010

As asas de Eros e a Final do Campeonado do Mundo em Futebol... em Paris - Parte 2!

As paixões... as paixões... Os frutos dos nossos desejos rebentam das sementes do deus alado com setas e aspecto miserável, filho da pobreza e do engenho. Aquele por quem entregamos tudo, até a vida, e com ele o nosso engenho é desenvolvido. Assim falava o filósofo no meu resumo das suas palavras. Falo, claro, de Eros, o deus do amor.
Pelas paixões tudo entregamos. Quando o nosso coração se enche de algo pleno, comunitário, de espírito de entrega, partilha comunitária, gestos de afecto, beijinhos, abraços, gritos de alegria... e futebol, claro está! É neste assunto que todas estas acções se tornam possíveis, de certo modo, de ver tão lindas. No futebol, à margem das divergências clubísticas, somos todos uma grande família sem qualquer tipo de complexos. Vejamos:
1. Antes do grande show de 90 minutos muitos homens e mulheres de aspecto másculo se posam diante de um espelho com o estojo de maquilhagem a meter base de duas e três ou quatro cores. Colocam perucas de cores berrantes, encharpes, carregam bandeirinhas, tantas como um arco-íris, madeixas no cabelo... Cada fanático, arrebatado pelo fogo da paixão à sua selecção. Eu digo que tudo isto é bonito. No mínimo, digno de posar ao lado de Priscilla, a dita Rainha do deserto.
2. Entram as vedetas no verde tapete relvado com as chuteiras delgadas feitas com todos os pormenores mais delicados, amortecimento de impactos e sempre com as mais variadas cores. Colants até ao joelho, calções com design a realçar as curvas dos exercitados e enaltecidos glúteos, que, em horas de maiores apertos e nas valentes quedas e enrolanços na relva, se vislumbram por baixo a roupa interior apertadinha à pele. Além do mais tanto amor têm à camisola que a oferecem como troféu ao seu público amado.

3. Volto à Priscilla:
First I was affraid I was petrefied (Estes são os primeiros minutos)
Finnaly it is happen to my right in front of my face my heart can't describe it (Este é o momento do Gooooooooooooooooooooollllllllllloooooooooooooooo!)
É nos golos que a coisa se vira do avesso. Toda a gente vira paneleira, todo o paneleiro beija gajas, todas as gajas tiram os soutienes... Que o céu não nos caia em cima, pois já bastou ter a polícia ter caído em cima de um magote de brasileiros no Oriente há dias.
Nos momentos de golo avistam-se autênticas cenas orgíacas de forte carga sexual. Os jogadores empil(h)am-se, existem apalpões, festinhas, peitos despidos, testosterona ao rubro... O mundo do futebol é, no fundo, algo de verdadeiramente masculino e, acima de tudo, objecto de assunto para adultos, maiores de 18 anos.
E das profundezas do nosso país, um dos seus avós por muitos ainda idolatrado, por outros renegado, pela maior parte abandonado às águas do Letes, eis que ele volta qual D. Sebastião em cima de um cavalo branco, não para salvar a pátria, ou a fazer ganhar a taça, mas para lembrar que sempre vivemos e viveremos debaixo do seu lema: "Deus, Pátria e Família". Em relação a Deus basta ver a forma como o país parou para receber o chefe de estado do Vaticano, a pátria dos nossos egrégios avós e afilhados que são os sucessivos jogadores da Selecção Portuguesa. A família... já falo da família.
Nos bastidores de tudo isto mora a verdade onde temos alguém a fazer do dinheiro o seu deus, do país os seus escravos e da família... um drama digno de uma das piores operetas escritas por algum holandês. No entanto fica tudo em família, pois vejam como sofrem de emoção a cada tentativa de ataque, como nem se levantam ou sentam em poses de querer levar por trás numa sincronia equiparada a um rito religioso. Tudo ao som de uma espécie de sacerdote com o nome de comentador desportivo.
Mas volto ao primeiro tema: refiro-me a Eros, à criação de uma família e do facto de não existir uma sem o outro.
Diz a tradição que o homem foi feito para a mulher, e esta para ele. Depois, na incrível e rocambolesca história do mundo que anda sempre a rodar como uma roda besuntada de vaselina, aparecemos nós... pois... Aparecemos para destabilizar toda a concepção de família. É verdade!
Porque acontece isto? Ora acontece, como diz a "tradição" que a viagem para o mundo da paneleiragem é uma viagem onde apenas se pode comprar o bilhete de ida, não se vende o de volta!
Podemos nascer direitos e a partir do momento que pegamos por trás não voltamos a ser os mesmos. E nem com a Maya a subir a palcos a questionar se alguém se quer reconverter... Aconteceu, porém, que o barco começou a ficar muito cheio com um grande e variado grupo de pessoas e é normal que algumas delas quisessem ganhar com isso. E puf... fez-se o chocapic! Que é como quem diz, o casamento.
A outra dizia que antes queria "asno que me carregue a cavalo que me derrube" e eu algo parecido: "antes puta mal-afamada a cadela domesticada". Não é que seja contra alguém se unir a alguém e partilhar alianças e todas essas cocozisses; no entanto mistura-se muitas vezes o deus Eros com o deus do dinheiro e o resultado nem sempre é bom. Pois que há contas a pagar e nos dias que correm é tudo pago a meias, há os filhos que se quer ter, há o trabalho a ocupar demasiado tempo... e isto tudo afasta o deus alado para um nicho abandonado ao esquecimento. E como ele se afasta teve de se inventar algo mais: o divórcio.
Assim sendo, eu não me quero casar porque não me quero divorciar.
E se acham que o que digo é ridículo, vejam o tempo que demorou entre o primeiro casamento gay em Espanha e o primeiro divórcio gay. Eu acho importante duas pessoas se unirem pelo amor e haver uma entrega mútua, coisa voluntária, sem ser preciso nada mais que o amor, sem papéis, sem complicações, apenas o puro Eros.
Devo ser utópico, não?
Por este motivo me mantenho na má vida... Uma vida de intensa adoração ao deus do amor e a toda a gente.

Se algum dia eu me casar será uma única vez sem grinaldas, grandes festejos ou rabonas, mas quero que seja em Paris. E que o eterno beijo dure mais que os 90 minutos (pouco mais ou menos) da final do campeonato do mundo de futebol, pois eu prefiro beijar que a espetar o cu aos apalpões perante um jogo na televisão.
despeço-me do meio de um grupo de adeptos a gritar pela amada pátria, de um iraniano a cantar espontaneamente algo na sua língua sem qualquer razão, e um par de jarras de cristal também sem nexo no quadro total.

It's a GayChoice...

3 comments:

Anonymous said...

olá menino do comboio...

Anonymous said...

Concordo contigo relativamente ao casamento. O facilitismo que existe nas relações actuais leva ao descrédito das mesmas.Quantas vezes podes dizer amo-te até a expressão ficar desprovida de sentido? Casamos porque sim porque tudo é festa e alegria e divorciamo-nos porque sim porque tudo é chatice e tristeza... Não estaremos nós intoxicados por Hollywood e Disney???

Dardanus said...

M. No geral devo dizer estar de acordo, mas neste momento referir que até no divórcio existe festa. A moda actual são as festas de divórcio com bolo e tudo. A forma que as pessoas arranjam para impingir novas coisas é absolutamente barroca. Caminhamos para um mundo em que não dispensamos levar atrás de nós toda uma casa e de andarmos de festa em festa, sendo que cada uma das festas perde o seu significado.