Sunday, November 01, 2009

Neste cabaré - um manifesto?!

Declaro aberto o life cabaré...

O mestre de cerimónias abres o conjunto de números e por nós desfilam figuras mais ou menos vestidas, mais ou menos sensuais. Desfila um conjunto de desejos e de poucas vergonhas que assumimos gostar naquele espaço mas que cá fora é um recanto escondido de nós mesmos. Que escondemos nós dos outros? Que monstros temos nós presos numa jaula prontos a serem largados quando temos as condições adequadas para o fazer.
O sapato de salto alto é calçado no pé da menina ou do homem que se veste de mulher; as lantejolas são o prato principal à mistura com os sete pecados mortais: gula, avareza, preguiça, soberba, ira, luxúria e inveja, tudo bem recheado das maiores delícias que nos percorre a fantasia. O holofote aponta o palco, a mulher de lábios sensuais tange a sua língua, o corpo da mulher mortífera se apega ao chicote e à arma de tortura, o preto é o seu vestir. A cortina vermelha agita-se. Os homens na sala conversam, alguns são marinheiros de passagem, um deles vai-se casar no dia a seguir, um outro gosta de homens mas esconde-se atrás do pudor, um outro é bem rico mas completamente sovina e não se dá ao prazer de largar uma nota para uma das meninas, um outro olha para as pontas perdidas da sua alma e pensa que se calhar o inferno é bem mais divertido que o céu. Se calhar todos nós temos um pouco de cada uma destas figurinhas, se calhar somos todos como estranhas criaturas de um mundo muito imperfeito tentando arranjar meios para nos sentirmos melhores.
Esta descrição deveu-se a uma ida ao teatro ontem a um número de Cabaré, que além do teor sexual muito explícito, tinha a sua ponta de divertido em alguns números. Tudo maquilhado com a mais fina purpurina e enfeitado com os batons mais sensuais que despertam em nós as fantasias que nunca imaginamos. Depois, na rua, após vários copos será visível a bebedeira de uns, a ressaca de outros, ou mesmo a partilha de um abraço em busca de um quarto próximo. Hoje, como sempre, os nossos instintos deixam-nos isso mesmo atrás: quando não os conseguimos suster rebentam com todas as portas até que chegam ao seu espásmico destino e ficam-se como uma felicidade já passada que se retém como a água nas palmas das mãos. Quando os agarramos eles transformam-se, em vez de nos deixar vazios proporcionam-nos a forma de nos deliciarmos com o mundo mais fortemente, de sobrevivermos e de explorarmos o nosso ego. Parece que tudo isto é uma lição de moral, talvez seja, não sei... mas uma lição de moral que é um pouco invulgar, uma vez que não sustento que nos abstenhamos destas delícias ou mesmo dos pecados que nos confundem a alma, mas simplesmente que vivamos com eles e não por eles. Defendo que vivamos, se possível em todas as delícias, com todas as riquezas, com toda a luxúria, sexo, diversão, jóias, mas que acima de tudo, todas essas coisas nos sirvam para fazer felizes e não para nos dar uma ilusão de felicidade, façamos da vida um cabaré permanente com toda a agitação e ar quente no ar, alguma coisa forte, sexual, potente onde a energia da noite nunca se esgota... faço votos disso!

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