Sunday, June 17, 2007

sem mais que...

borboletas na minha rua não mais têm onde ir que não seja a minha casa. dançam em corropio em torno de jorros de leite e fel, jorros de vulcões viscerais pensando alcançar o cimo da pirâmide... ouvem-se noticiário de manhã à noite e eu penso para mim mesmo que estou cada vez mais maluco e que tudo o que sabia já deixou de ser conhecimento e passou para a ala do esquecimento. entretenho o olhar nessas borboletas maravilha dos ares que, por não serem Ícaro não voam alto demais. os sonhos, as palavras, as ideias não são mais que ejaculações da copulação de mais ideias que temos e que se umem para tentar criar a nossa ruína. olho as borboletas para me lembrar que elas não têm para onde ir e eu tenho semrpe algum lugar onde ir, alguma coisa que fazer sem conseguir escapar-me da campânula de vidro que sou eu mesmo... o que fiz eu para agir da maneira que ajo? que fiz eu... entras de rompante no quarto onde o meu olhar vagueia com as borboletas e me deixo inundar pela sua cor, podem não ser bonitas, mas eu gosto delas na mesma. vens e deitas-te ao meu lado. o teu olhar cansado, ausente adormece quase instantaneamente e eu perco-me a olhar-te. olho-te, olho-te até as minhas lágrimas secarem. olho-te para me lembrar que te amo pois a tua presença na minha vida já mal se faz sentir...
silencio
parece que a tempestade passou e posso enfim dormir... as borboletas sairam já também e estamos nós os dois sozinhos. o vento espaneja as cortinas da janela aberta que os nossos olhos vêm. o gosto, o paladar, a musicalidade das palavras que me dizias (como me lembravam um velho porto servido em copos do vidro mais puro) desapareceram como se sublimassem e o éter da nossa paixão foi-se evaporando dos nossos corpos cansados de foder e de beijar. parece que o amor nos esqueceu, que o amor para nós morreu...
silencio
os teus cabelos derramam nódoas negras nas ranhuras da trama dos lençóis da almofada em que repousas. parece que têm vida e se vestem de serpentes para reclamar os corpo que é seu e que a ele não tenho tido acesso. os meus ossos vibram como canas, como varetas de um diapasão fazendo soar ondas puras, que puro maior não existe e eu apenas quero agora dormir, não quero pensar em ti e a tua sombra me persegue. o quarto é um espaço vazio onde me abandono ao teu domínio que farpeia a minha pele morta...
silêncio
espalhas raízes à minha alma desesperada feita pão bolorento. nela pousa uma última borboleta fazendo um esforço para não me achar uma peça nojenta. ao vê-la masturbo-me em desespero contínuo procurando uma última gota do que pudesse existir entre nós. o que sinto não é mais que uma decepção, uma profunda bebida amarga do fundo de uma garrafa cujo prazo ja acabara e azedara. nem para vinagre servimos. a nossa alma conjunta morreu, as nossas memórias foram queimadas, a nossa cama se keimou e morremos...

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