Wednesday, April 06, 2005

Narciso

Amo-me acima de todas as coisas. Por vezes via-me ao espelho e a minha imagem era tão bonita que chego quase a pensar que o meu espelho é mentiroso. Chamaram-me um dia e disseram-me que era bonito. Queriam-me. O meu ego foi tanto que em vez disso resolvi afastar-me e voltar a casa. Quando chegeui a casa mirei o meu espelho e o que é que vejo?
EU apenas EU.
Tirei lentamente toda a minha roupa e fiquei uns instantes olhando para aquele reflexo que tanto amava. Sabia que nunca o poderia amar completamente, aquela imagem não era real... eu não estava do outro lado do espelho.
Ainda assim fechei levemente os olhos e aproximei-me do espelho. Fiquei a sentir o reflexo. fiquei a sentir-me ver-me a mim próprio.
Aproximei os meus lábios do espelho e beijei-o. A minha paixão era tanta que beijei o meu reflexo sem ver o tempo passar. o que me importava é que amava o reflexo... não sabia se ele me amava mas isso não me importava. Os meus lábios gelavam como se a frieza do meu reflexo quisesse quebrar o calor da minha paixão. A certa altura a excitação era tanta que o meu pénis inchou de prazer. A tusa era tanta que apesar da ridícula imagem resolvi envolver-me num estranho ritual de sensialidade onde nenhum dos dois prisioneiro poderia envolver-se completamente com o outro. Um vidro separáva-nos. Um vidro, antes limpo para que me visse bem, agora encharcado em suor dos nossos corpos.
O meu sósia estava excitado demais e no meio de tanta paixão levou a mão ao seu sexo e começou a deslizar as peles para cima e para baixo. Gemia... O prazer era acima de tudo arrasador; nenhum dos dois conseguia conter-se. O esperma deslizava pelos conplexos tubos, passou por todas as glândulas e os músculos do teso pénis forçaram-no a sair.
Os meus olhos reviraram-se de excitação e o líquido viscoso ficou preso no vidro que nos separava... Os nossos olhos ainda se cruzavam... Queriamos o outro mas isso era imposível. A ponte que nos separava era intransponível...
Não sei qual de nós teve a ideia, mas a verdade é que forçamos aquela barreira a ceder. tudo estava bem até que o pequeno esforço se conveteu numa força brutal de ambos os lados e abrimos uma pequena fresta que em pouco se converteu numa grande fenda que queria partir o vidro em dois. Um segundo foi o que durou a nossa eterna e definitiva separação.
O vidro...
Estilhaços...
Um chão sujo de sangue...
Um corpo ensanguentado...
Um segundo converteu os nossos desejos mais violentos em perdas maiores... Não mais consegui erguer a minha cabeça daqueles pedaços de vidro, não mais consegui sentir o meu reflexo completo. Aquele espelho era tudo o que tinha e foi-se embora. Só depois de perceber o que se havia passado é que me dei conta que não mais o voltaria a ver... A minha paixão fora-se. Todos os meus esforços acabaram em tragédia. Foi então que chorei...
Chorei tanto e tão amargamente que os olhos desesperados que apareciam nos estilhços já mal me conseguiam ver-me. Não eram mais os do meu reflexo...
Não era mais eu...
Diziam que eu era bonito. Talvez tenha sido por casa disso que as minhas mãos se tornaram folhas e a minha cabeça uma flor...

1 comment:

Anonymous said...

conheco gente assim =P

kidding, gostei mt desta historia tb =)